domingo, 13 de junho de 2010

2143) O sobrevivente (20.1.2010)



(Tsutomu Yamaguchi)

Conta-se por aí uma história a respeito dos dois grandes incêndios de edifícios em São Paulo nos anos 1970, o do Edifício Andraus em 1972 (16 mortos e 330 feridos) e o do Joelma em 1974 (187 mortos e centenas de feridos). Ao que se diz, no incêndio do Andraus um helicóptero veio na direção da cobertura do prédio, onde se amontoavam centenas de pessoas, e um bombeiro salvou entre várias outras um homem, que agarrou e levou para lugar seguro. Três anos depois, quando o Joelma pegou fogo, o helicóptero e o bombeiro partiram para o salvamento, e a certa altura, quando o bombeiro desceu sobre a cobertura, deparou-se com o mesmo sujeito que havia salvo no Andraus – e acabou salvando-lhe a vida pela segunda vez. Imagino que isso não passe de uma lenda urbana; as possibilidades disso acontecer são mínimas. O bombeiro tudo bem, porque era seu ofício. Mas as possibilidade de que um mesmo sujeito estivesse nos dois prédios, e acabasse sendo salvo pelo mesmo bombeiro... No dia que eu conseguir acreditar numa história assim eu me animo a apostar na Mega-Sena.

Mais incrível, contudo, e verdadeira até a medula, é a história de Tsutomu Yamaguchi, um japonês falecido nos primeiros dias de 2010, aos 93 anos. Yamaguchi estava em viagem de negócios na cidade de Hiroshima em 6 de agosto de 1945, quando caiu sobre a cidade a bomba atômica conduzida pelo piloto Tibbets no bombardeiro Enola Gay. A catástrofe que se espalhou pela cidade é de conhecimento público. Yamaguchi sofreu graves queimaduras, foi levado a um hospital e no dia seguinte conseguiu ser trasladado de volta para a cidade em que morava. Ganha uma assinatura grátis da minha coluna quem adivinhar qual era a cidade dele. Isso mesmo, Nagasaki, que três dias depois foi explodida por uma segunda bomba atômica. E Yamaguchi escapou novamente.

Embora haja um grande número de pessoas que sobreviveram a cada um desses bombardeios, Yamaguchi é oficialmente reconhecido como a única pessoa no mundo que sobreviveu às duas únicas bombas atômicas já detonadas durante uma guerra contra alvos humanos. Não sei quantos anos se passarão até que um segundo indivíduo possa disputar esse título. O que há de mais curioso em sua história é a sua aura de predestinação, tanto a negativa quanto a positiva. Yamaguchi morava em Nagasaki (as duas cidades ficam a cerca de 300km uma da outra). Estava há três meses fazendo um trabalho em Hiroshima, e ia voltar para casa justamente no dia 6. Antes de deixar Hiroshima ele percebeu que havia esquecido um objeto de que precisava e voltou para pegá-lo; foi então que a bomba caiu.

Levado de volta para Nagasaki, ele, mesmo ferido, foi trabalhar no dia 9, e estava contando aos colegas o que tinha acontecido quando a segunda bomba caiu, Desta vez, ele não sofreu novos ferimentos, mas o caos resultante agravou sua condição física. É como se duas forças estivessem em jogo uma empurrando-o para ficar em baixo das bombas, e a outra protegendo-o.


Um comentário:

Wandecy Medeiros disse...

Esse senhor era à prova de bombas.