terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
1630) “Príncipe Caspian” (3.6.2008)
O segundo filme da série As Crônicas de Narnia, em cartaz na Paraíba, tem efeitos especiais bem bolados e usados sem exagero, um quarteto de protagonistas infanto-juvenis (o que é uma raridade no gênero, que geralmente se concentra em um ou dois) e uma trama de fantasia clássica – um reino em perigo, ameaçado por nobres ambiciosos. C. S. Lewis e seu amigo J. R. R. Tolkien geraram uma mega-franquia editorial e cinematográfica, mais de meio século depois que escreveram suas obras.
C. S. Lewis era um professor de Oxford, um sujeito erudito e profundamente religioso. Pertencia a um grupo de intelectuais de perfil semelhante que incluía Tolkien e Charles Williams. Denominavam-se “os Inklings”, e todos escreveram histórias fantásticas ou de ficção científica. Lewis e Tolkien tinham uma daquelas amizades polêmicas, feitas de profundo afeto mútuo e profundas divergências (Lewis era anglicano, Tolkien era católico). Tolkien estava escrevendo sua série do Senhor dos Anéis desde 1937 com O Hobbit; os três volumes principais da trilogia saíram entre 1954 e 1955, embora Tolkien já viesse trabalhando neles há mais de dez anos. Lewis, por sua vez, publicou toda a série “Narnia” entre 1950 e 56. Os dois costumavam ler trechos dos respectivos manuscritos em suas noitadas literárias em Oxford. Tinham numerosos pontos de concordância e de divergências, e hoje não há dúvida de que essa relação de crítica e encorajamento recíproco contribuiu muito para o alto nível literário de ambas as séries. A gente sempre escreve melhor quando sente que tem leitores atentos, respeitosos e exigentes, ainda mais quando são amigos, e amigos mais chegados a um debate do que a fazer elogios protocolares e mudar de assunto.
Este segundo filme de Narnia mostra o quanto o universo de Lewis se parece com o de Tolkien. Em ambos, coabitam seres humanos e seres fantásticos ou mitológicos. Em Tolkien são os elfos, hobbits, anões, orcs, etc. Em Lewis são faunos, centauros, animais falantes. O mundo de Tolkien se situa no planeta Terra, mas numa época antiqüíssima, anterior à nossa; Narnia é um outro mundo, paralelo ao nosso, que pode ser acessado através de “fendas” em lugares especiais (como o guarda-roupa mostrado na primeira história).
O leão Aslan, em “Narnia”, é um símbolo de Cristo: ele morre e ressuscita, serve como um símbolo de grandeza moral, ajuda as crianças a enfrentarem seus inimigos mas na maioria das vezes se mantém à distância, intervindo apenas em alguns momentos. Em Príncipe Caspian há um momento em que Lucy diz ao leão: “Eu sabia que você estava aqui, mas os outros não acreditaram em mim”. E Aslan responde: “Mas, se você acreditava, por que não veio?” É uma resposta cristã e sábia, porque na verdade a medida de uma fé é o tipo de conseqüências que ela produz em nossa atitude diante da vida. Se você acredita em alguma coisa, por que não vai atrás dela? Por que não pratica?
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