quarta-feira, 15 de outubro de 2008

0603) Júnior Baiano (23.2.2005)



Sou um fã incondicional de Júnior Baiano. Semana passada, no jogo River x Flamengo pela Copa do Brasil, ele produziu outra obra-prima: o lateral do River cruzou uma bola da ponta direita, ele subiu sozinho e testou para o fundo da rede do Flamengo. No intervalo, explicou aos microfones que a bola ganhou efeito e acabou batendo no seu rosto, o que, no entanto, não diminui o mérito. Existe algum tipo de mérito no sujeito que marca um gol contra com tamanha convicção. “Convicção” é a palavra-chave para entender Júnior, que, como grande parte dos baianos, é um sujeito plenamente convicto de que tudo que venha a fazer é bom e está certo.

O futebol não teria a mesma graça sem esses jogadores imprevisíveis, incontroláveis, que fazem um gol de placa e no instante seguinte dão uma “cheirada” daquelas da chuteira voar para fora do campo. Muitas lendas já se criaram com esses personagens folclóricos: Fio Maravilha, Cafuringa... No Flamengo, o mais recente foi o impagável lateral-direito Maurinho, o dos carrinhos que iam parar no fosso e chutes a gol que ameaçavam as cabines de rádio. No dia de sua melhor partida pelo Flamengo, aplaudido em massa pela torcida, acabou encarregado de bater um pênalte no último minuto de jogo, para coroar sua grande atuação. Adivinha o que aconteceu.

Júnior Baiano tem uns rompantes de violência que condeno. Não precisava. Mas é difícil você convencer um crioulo de 1,90m de altura a deixar a violência em casa. É como sugerir a Luma de Oliveira que saia à rua de burka. Júnior Baiano tem técnica, tem lucidez, é um grande zagueiro. Só não tem mais vez na Seleção porque Parreira já dispõe de dois que são tão destrambelhados e imprevisíveis quanto ele: Lúcio e Roque Júnior. O Baiano tem dois episódios que não esqueço. Um foi num remoto Flamengo x Botafogo, quando o Fla fez 2x0 no primeiro tempo e ele foi até o banco do Botafogo e jogou a camisa na cara do técnico, com quem tinha tido atritos em outras épocas. Foi o que bastou para mexer com os brios alvinegros: o Botafogo voltou com tudo no segundo tempo e empatou o jogo.

Outro episódio foi o pênalte que ele cometeu num jogo da Copa de 98, quando o Brasil perdeu por 2x1, pênalti tão bem feito que só quem viu foram o juiz e um câmara da TV sueca que estava atrás do gol. Foi talvez por causa deste pênalti que ele perdeu a vez na Seleção, e não pelas tesouras-voadoras que são sua especialidade nos momentos em que já tem cartão amarelo.

Não, o que celebro em Júnior Baiano não é a violência, é a imprevisibilidade. Cada investida sua é um lance de dados, que jamais abolirá o acaso, o mistério, o inesperado. E a melhor medida de sua vocação é o olhar ingênuo e perplexo quando os repórteres de campo vêm lhe perguntar sobre o gol de bicicleta ou o tapa no juiz. Para ele, é tudo a mesma coisa, é tudo futebol, é tudo parte do mesmo milagre que, como tantos Iniciados, ele pratica sem compreender.

2 comentários:

Anônimo disse...

Hmmmm... acho que já entendi... quando o lance é malogrado, chama-se pênalte. Quando é bem sucedido, pênalti...rsrs

Braulio Tavares disse...

Ô Tibor, tenha dó. As 2 grafias são certas, usa-se à vontade. O que não é certo é cometer um penalty. :-)))