sábado, 26 de julho de 2008

0466) O plágio publicitário (16.9.2004)



(do saite JoeLaPompe)


Certas idéias são tão geniais que seria um crime não plagiá-las. Ainda mais num ambiente competitivo quanto o da publicidade, onde boas idéias não bastam, é preciso ter idéias geniais de manhã, de tarde e de noite, senão o cara perde o emprego. E é numa dessas que os Departamentos de Criação deixam de ser uma indústria (onde as coisas são criadas) para virar um comércio (onde pega-se o que já existe, e passa-se adiante). Folhear revistas e surfar na Internet acaba sendo uma tábua de salvação.

O saite francês Joelapompe (http://www.joelapompe.net/) faz um apanhado desses casos em que um publicitário pede uma idéia emprestada e esquece de devolver. São páginas e mais páginas de exemplos muito esclarecedores sobre várias coisas. Primeira: a imensa criatividade desse pessoal; é uma idéia bem-bolada atrás da outra. Segunda: a imensa cara de pau dos mesmos. Terceira: a imensa irrelevância da gente levar essas coisas muito a sério, uma vez que (o saite mostra) há idéias que recebem prêmio num Festival mesmo sendo uma “chupação” descarada de uma idéia já premiada no mesmo Festival. Ao que parece, lá na selva deles vale tudo.

Tenho uma teoria. Se você pega uma idéia alheia, deve retrabalhar essa idéia a tal ponto que o autor da idéia original tenha dificuldade em reconhecer a sua; ou então seja forçado a admitir que a idéia copiada por você é muito superior à dele. É o que acontece, por exemplo, na página 6 do saite. O “ping” é um anúncio da Toyota (de uma agência brasileira) mostrando um hipopótamo rio abaixo, seguido pelo carro. O “pong” é um anúncio do Land Rover, com a mesma idéia de mostrar o carro “navegando” rio abaixo feito um hipopótamo. Aqui, no entanto, vemos dois hipopótamos meio submersos, com as orelhas despontando dos lados da cabeça; e ao fundo, como se fosse um terceiro animal, o jipe, com os retrovisores dos dois lados, como orelhas. A “rima” visual, inexistente no primeiro anúncio, faz com que a cópia me pareça bem melhor que o original.

A verdade, contudo, é que não se trata de mau-caratismo ou preguiça. É que o meio publicitário é um dos mais propícios à propagação de memes (ver “Os memes”, 23.5.2003). Os memes são idéias que pulam de mente em mente, e que praticamente forçam os seus hospedeiros a passá-las adiante. Quando vemos três cartazes de filmes usando a famosa imagem do “E.T.” de Spielberg (a bicicleta voadora passando diante de uma enorme lua cheia) temos que admitir que o poder de uma imagem se sobrepõe a qualquer tipo de escrúpulo. Certas idéias são tão fortes que se apossam de nossa mente e não a deixam em paz enquanto não as passarmos adiante. Certas imagens nos impressionam a tal ponto que parecem ter se tornado parte de nós, e quando as reproduzimos é como se as tivéssemos inventado naquele instante. A cultura-de-massas substitui a cultura clássica. E vive da proliferação de memes coletivos, onde o conceito de Autor é substituído pelo de Transmissor.

2 comentários:

Félix Maranganha disse...

Ao ler Marx, percebi que havia ali um conceito interessante, o de alienação. Antes o artesão se reconhecia no seu trabalho, hoje o trabalhador industrial não se reconheceria, pois trabalha numa linha de produção, e ocupa uma única função.

Estariam os publicitários começando a cair no mesmo abismo?

Braulio Tavares disse...

Sobre essa questão da alienação em Marx, leia o artigo mais abaixo, sobre o massacre de Beslan. Quanto aos publicitarios, acho que o problema é pressa, crença de que vai fazer algo melhor do que o do outro, crença de que ninguem vai perceber a semelhança.