As tribos antigas tinham uma coisa chamada de Conselho dos
Anciãos, a quem cabia deliberar sobre as questões mais graves do interesse de
todos. Os anciãos eram os sujeitos mais
velhos, mais experientes, mais cheios de recursos. Era provável que alguns já tivessem enfrentado situações
semelhantes. Tinham – no dizer de
Camões – um “saber só de experiências feito”.
O engraçado é que hoje em dia, para coisas como filmes, programas de TV
ou campanhas publicitárias, não temos Conselhos de Anciãos, temos o Conselho
dos Idiotas.
Os cinqüenta idiotas (era assim que Raymond Chandler os
chamava) são aqueles indivíduos que os estúdios de Hollywood arregimentam para
uma sessão exclusiva do filme que está quase pronto, e que as agências de
publicidade contratam para examinar seus projetos. Eles exprimem a opinião
média da população. São pessoas meio que pegadas na rua – o cara que vende
hot-dog, o office-boy, a recepcionista, umas donas-de-casa, uns
pais-de-família... Gente sem muita
informação sobre os aspectos técnicos e ideológicos de uma arte, qualquer arte.
Gente que representa um segmento importantíssimo do mercado: a Maioria.
A indústria cultural vive da maioria. É como o sistema republicano, onde não ganha
o candidato mais honesto e mais capaz de administrar, ganha o candidato que
tiver mais votos. Nas eleições, como não se pode saber por antecipação em quem
todas as pessoas vão votar, o Ibope faz uma amostragem por região geográfica,
classe social, etc., e manda seus pesquisadores. Eles entrevistam duas mil ou três mil pessoas, e com essa pequena
amostra acertam (em geral) em quem vão votar 120 milhões.
Os estúdios de cinema fazem a mesma coisa, só que de uma
maneira menos científica. Eles escolhem
“no olho” uma porção de pessoas, levam para uma cabine, dão um lanche, exibem o
novo filme de Martin Scorsese ou Quentin Tarantino, e depois perguntam o que o
grupo achou do filme. Ninguém os chama de idiotas, a não ser o autor de O Sono
Eterno. Eles não estão ali por serem idiotas, claro, mas por serem
representativos. Se o país tivesse 300 milhões de intelectuais, os estúdios
escolheriam 50 intelectuais.
Um comentário:
“a Opinião Pública tem sempre razão… Ainda mais se for bem cretina…” [Céline]
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