segunda-feira, 27 de abril de 2020

4574) Dicionário Aldebarã XX (27.4.2020)



(ilustração: Michael Whelan)

O planeta de Aldebarã-5 tem uma civilização influenciada pelos colonizadores terrestres.  Seu vocabulário exprime as características da natureza do planeta e o seu modo de observar os fenômenos da psicologia e da cultura.  Confiram os verbetes abaixo, recolhidos, meio ao acaso, do Pequeno Dicionário Interplanetário de Bolso.


“Assambol”: sistema social de sorteios mediante o qual duas das pessoas inscritas têm que trocar de residência durante sete dias, cada uma delas indo dormir na casa da outra, conviver com a família da outra, exercer o trabalho ou outras funções que são desempenhadas pela outra. O processo é voluntário e encarado como uma oportunidade de enriquecimento da experiência pessoal, e geralmente resulta em amizades duradouras.

“Carrebing”: pessoa com temperamento entre egoísta e ansioso, que a faz ficar de pé diante de um palco prejudicando a visão dos que estão sentados, furar filas sob o pretexto de que está apenas pedindo uma informação no guichê mas sempre dando um jeito de ser atendida naquele momento, segurando aberta a porta do elevador para esperar outra pessoa que vai descer com ela mas está longe de estar pronta, e assim por diante.

“Sodibo”: praças e estações constantemente cobertas de decoração festiva (bandeirolas, luzes, etc.) para dar aos visitantes que passem por aquela cidade a impressão de que ela está em festa, e assim convencê-los a ficar; quando eles se informarem melhor, ouvirão dizer que a festa “foi na semana passada” mas em breve haverá outra, e com isto a circulação de viajantes é sempre grande.

“Sellchinork”: o ritual de, ao acordar pela manhã, permanecer de olhos fechados rememorando o que foi sonhado durante a noite, e anotar as partes mais significativas antes da primeira refeição do dia.

“Jorrops”: pequenas bolsas pregadas à parte de trás dos assentos dos transportes públicos, contendo livrinhos de natureza variada para serem lidos pelos passageiros durante a viagem; quem quiser levar um, deixa outro.

“Torinid”: lanche popular que consiste em espetinhos de bolas de carne tipo almôndegas, enfiadas uma a uma, cada qual com sabor diferente: apimentado, doce, empanado, guisado, com legumes, etc.

“Coniara-Tere”: período na adolescência em que o rapaz ou a moça tem que passar um mês inteiro na casa de uma família, ajudando nos trabalhos dentro e fora de casa, convivendo, estudando; ao fim de cada mês, a família decide para que casa ele(a) deverá seguir para avançar no seu aprendizado.

“Dossodip”: diz-se de certos trejeitos físicos ou cacoetes verbais que uma pessoa tem mas não se dá conta, mas as pessoas que convivem com ela se acostumam a perceber e com isso deduzir suas reações de desagrado, surpresa, interesse, etc.

“Tulunfass”: instrumento musical que consiste num pote de barro grande, arredondado, cheio de água até certo ponto, com penduricalhos metálicos que se agitam a produzem reverberações quando o exterior do pote é percutido com as mãos nuas ou com baquetas forradas de lã.

“Mariuk-dan”: o costume de, antes do sepultamento de uma pessoa, cada parente ou amigo se dirigir para a sepultura antes de ser fechada e colocar ali algum pequeno objeto (ou uma réplica dele) simbolizando o laço que o ligava à pessoa falecida.

“Edjiume”: pequenos suportes, geralmente de louça ou de metal, que se coloca sobre a mesa e nos quais pode-se prender um livro aberto. Servem para liberar as mãos das pessoas que gostam de ler enquanto fazem um lanche.

“Kam-Unin”: objetos, ou pequenas coleções de objetos, cuidadosamente acondicionados, que os pedreiros costumam inserir entre os tijolos, entre as telhas ou sob o piso de uma casa, durante a construção, e que servem como pequenas cápsulas-do-tempo (sempre têm a data gravada) para serem descobertas e apreciadas num dia futuro.