Duvido que mesmo muitos fãs da literatura policial, hoje em
dia, conheçam o modesto Edward D. Hoch, autor norte-americano falecido em 2008
aos 77 anos. Escreveu poucos romances (inclusive três de ficção científica). A
maior parte de sua produção foi em forma de contos. Hoch (pronuncia-se “Rôuk”)
foi um típico escritor da ficção popular dos EUA. Às vezes somos tentados a
chamar toda essa literatura-de-gênero de “pulp fiction”, mas existe uma grande
diferença de formato e de estilo entre a pulp fiction propriamente dita (que
floresceu nas décadas de 1920-30-40) e a ficção das revistas dos anos 1950 em
diante, as chamadas revistas “digest”, de tamanho menor, com menos ênfase do
que as “pulp” no melodrama e no sensacionalismo, histórias em média mais bem
escritas e mais curtas. O modelo mais conhecido do leitor brasileiro é o
saudoso Mistério Magazine de Ellery Queen.
Um diferencial de Hoch é a variedade de detetives que criou.
Suas histórias são formulaicas, ou seja, cada uma delas repete obrigatoriamente
um certo número de efeitos e até mesmo uma estrutura fixa, onde variam os
elementos. Isto é típico da ficção popular, escrita em quantidade, e na qual
seria contraproducente ter que reinventar tudo do zero em cada nova narrativa.
As enciclopédias detetivescas listam entre 20 e 30 detetives inventados por
ele, vários com dezenas de histórias.
Meus preferidos são o Dr. Sam Hawthorne, um médico da Nova
Inglaterra que resolve crimes impossíveis (quarto fechado, etc.); Rand, um
espião inglês cuja especialidade é decifrar códigos secretos (os mais
implausívelmente barrocos!) usados por espiões inimigos; e Nick Velvet, um
ladrão profissional que se especializa em roubar para seus clientes objetos
aparentemente sem valor ou sem motivo aparente (a água de uma piscina, p. ex.).
Hoch é considerado o contista mais prolífico do mundo
literário, com cerca de 940 contos publicados. Em maio de 1973 ele iniciou uma
série que dificilmente será igualada: todos os meses uma nova história sua
apareceu na edição norte-americana do Mistério Magazine de Ellery Queen, e
isto se manteve por 34 anos ininterruptos.