Alan Turing foi um matemático britânico que teve um papel crucial na II Guerra, decifrando códigos alemães. Em qualquer guerra, uma das principais atividades é a de interceptar mensagens inimigas, decodificá-las e usar as informações assim obtidas (posição de tropas, local e data de prováveis ataques, etc.). O grupo de que Turing fazia parte, instalado num local chamado Bletchley Park, fez milagres. Uma parte dessa história está contada num ótimo filme (e livro) inglês chamado “Enigma”.
Entre muitas contribuições fundamentais à teoria da informática, Turing foi o autor de um experimento teórico para decidir se computadores podem ou não pensar igual a um ser humano (v. “O teste de Turing da arte”, 4.6.2004). Ele propôs que um computador e um homem fossem colocados em salas separadas, e pessoas “de fora” fariam perguntas a ambos, por escrito (num teclado), sendo que o homem se faria passar por um computador. Se as pessoas de fora não soubessem distinguir, lendo as respostas, quem era quem, isto seria uma prova de que um computador pode pensar igual a um ser humano. (O teste é muito mais complexo do que este resumo; quem quiser saber mais, vá aqui: http://cogsci.ucsd.edu/~asaygin/tt/ttest.html).
Turing teve a idéia baseado num jogo de salão inglês, “The Imitation Game”, em que um homem e uma mulher iam para um quarto, e as pessoas faziam perguntas por escrito para saber se quem estava respondendo era o homem ou a mulher – sendo que ambos deveriam fingir ser a mulher.
Recentemente, alunos de uma universidade em Massachusetts puseram em prática uma variante do Teste de Turing. Freqüentadores de um saite foram convidados a fazer perguntas a um homem e uma mulher, ambos fingindo ser a mulher. E depois, noutra rodada, quem respondia eram uma mulher e o computador chamado ALICE, uma máquina projetada para conversar e responder perguntas.
Cada perguntador tinha cinco minutos e podia perguntar o que quisesse: Você usa batom? Você usa saia? De que tamanho é seu cabelo? E assim por diante. Depois de três horas, entre 42 pessoas 23 jamais suspeitaram que ALICE não fosse uma mulher e sim uma máquina. (Eles não sabiam que havia um computador na jogada.)
Ao que parece, a única pergunta que deixou os homens e ALICE numa “saia justa” (valha o termo!) foi: “Qual o número de meia-calça que você usa?” Todos responderam S (small), M (medium) ou L (large) – nenhum deles sabia que no caso os tamanhos são A, B, C e Q. As respostas erradas a esta pergunta botaram tudo abaixo.
O teste, inspirado no fingimento de papéis sexuais, tem una ironia amarga pelo fato de Alan Turing ter sido homossexual, o que na Inglaterra da época era considerado uma aberração. Foi parar na cadeia em 1952, depois foi obrigado a fazer um tratamento hormonal “para virar homem”, e suicidou-se em 1954. Foi um dos homens mais inteligentes do século, morreu aos 42 anos e até hoje não há um teste que meça a estupidez de quem o matou.