https://www.youtube.com/watch?v=jKcNp5n8sbk
(Wilson Freire / Antonio Nóbrega / BT)
Nosso Brasil
(acompanhe a minha idéia)
foi Atlântida e Pangéia
um Sertão que já foi mar.
Já foi Rodínia
foi Panótia e Gonduana,
era belo e bacana
antes de Cabral chegar.
do Brasil, de São Brandão,
Vera Cruz, nome cristão
trazido de além-mar.
Foi Pindorama
foi Terra de Santa Cruz
Papagális, meu Jesus,
depois de Cabral chegar.
tem tesouros, tem arcanos,
tem mais de 30 mil anos
de histórias pra contar...
São trinta mil
em que o índio teve vez,
500 que o português
e o negro chegaram cá...
eu sentado na cadeira
um estalo-de-Vieira
clareou a minha mente!
Eu percebi
que tinha de procurar,
descobrir e encarar
minha terra a minha gente.
minha burra eu selei
pus um cabresto e montei
pus espelho e um radar.
Pus uma bússola
astrolábio e luneta
diário, mapa e caneta
e falei: "Vou viajar!"
do sol, do cantar do galo
do sino bater badalo
eu saí pelo caminho...
Os cascos dela
velozes matraqueavam,
pareciam que estavam
tocando "Brasileirinho".
Cavalgar, cavalgar,
eu cavalguei.
No país dos brasileiros
conheci o mundo inteiro
e por ele eu passeei.
II
No meu galope
mais veloz que um corisco
eu cruzei o São Francisco
mergulhei no Iguaçu.
Fui despertar
no sol da Zona da Mata
vestido de ouro e prata
sambando maracatu.
as ladeiras de Olinda,
e muita morena linda
inda se lembra de mim...
Cantei seresta,
tirei verso na ciranda,
toquei tuba numa banda,
na outra toquei flautim.
enchi o Brasil de pernas
até chegar nas cavernas
da Gruta de Maquiné.
Voltei de lá
com um papiro na mão
trazendo a decifração
dos segredos de Sumé.
dominando tempestades,
cavando Sete Cidades,
separando Marajó...
Vi o profeta
puxando com sua cruz
cada órfão de Jesus
que cruzou Cocorobó...
Cavalgar, cavalgar,
eu cavalguei.
No país dos brasileiros
conheci o mundo inteiro
e por ele eu passeei.
Fiz um almoço
lá no "Buraco da Jia"
começou ao meio-dia
terminou pela manhã;
cuscus com fava,
bode assado, dobradinha,
macaxeira com farinha,
codorniz e ribaçã.
marisco no vinagrete
feijoada com croquete
kitut e baião-de-dois...
Comi de tudo
sem pressa, sem me cansar,
só para me preparar
para o que vinha depois...
risoto de camarão
maionese e macarrão
salpicão, frutos-do-mar.
Feijão macaça
galinha de cabidela
e um bife de panela
bem leve, pra descansar...
de carne com batatinha,
feijão verde e farofinha,
sanduíche de peru.
Pra terminar
um conhaque, um cafezinho,
mais um cálice de vinho
e três doses de Pitu...
Cavalgar, cavalgar,
eu cavalguei.
No país dos brasileiros
conheci o mundo inteiro
e por ele eu passeei.
IV
Porém um dia
eu cruzei em meu caminho
com um cavalo-marinho
que era gêmeo com o meu!
Puxei a rédea
fiquei olhando pra ele:
ele achou que eu era ele,
eu achei que ele era eu!
mais um galope se ouviu
outro cavalo surgiu
passando perto da gente.
Uma figura
semelhante e parecida
mas como tudo na vida
tinha algo diferente.
chegaram no mesmo instante
mas logo mais adiante
outro ainda apareceu!
Eu que pensava
que era único no mundo
encontrei num só segundo
muitos outros como eu!
a Cavalhada Marinha:
parecia idéia minha
parecia carnaval...
Fomos dançando
na ponte do arco-íris
e quando eu rodei o pires
apurei quase um real...
galopando esse país
de metrópoles febris
e esquecida imensidão.
Vi a coragem
de quem enfrentou a morte,
vi um vento lá do Norte,
vi a vela em minha mão...
branca, azul, aparecida
e uma mulher parecida
com aquela lá do céu...
Vi tantas luzes
que lembrá-las é revê-las,
tantas luas e estrelas
entre as rendas do seu véu...
uma luz se projetava
e essa luz me apontava
uma Tróia no sertão...
Uma muralha,
dentro dela uma cidade
fora dela a crueldade,
a morte, a escravidão.
lá na Serra dos Palmares
erguendo alto nos ares
a bandeira de Zumbi...
Saltei da burra
devagar fui caminhando
me cheguei, fui escutando
o que acontecia ali...
Cavalgar, cavalgar,
eu cavalguei.
No país dos brasileiros
conheci o mundo inteiro
e por ele eu passeei.