Amarildo
de Souza é um pedreiro da Rocinha que no domingo 14 de julho, às 8 da manhã,
foi levado de casa por policiais da UPP, para averiguação, e nunca mais foi
visto. Na terça-feira dia 16 a família registrou o desaparecimento. Na
imprensa, nas manifestações de rua, nas redes sociais, todo mundo ergue
cartazes, posta mensagens e faz a pergunta: “Cadê o Amarildo?”. A polícia diz
que Amarildo foi interrogado e liberado às 19:40 do domingo, mas as câmaras nas
proximidades não registram sua saída; aliás, “as duas câmaras instaladas na
frente da sede da UPP não funcionaram desde as 8h do domingo em que Amarildo
desapareceu até o fim do dia.” Uma cômoda coincidência (ou incômoda, de acordo
com o ponto de vista).
Já
o caso de Bruno é diferente. Ele era um dos manifestantes que no dia 22 de
julho protestavam na rua Pinheiro Machado, perto do Palácio do Governo. Preso
pela polícia, foi acusado de estar portando uma mochila com mais de 20 coquetéis
molotovs e de ter jogado um deles na tropa da PM. Bastaram dois ou três dias
para que surgissem nas redes sociais dezenas de fotos e vídeos argumentando,
com riqueza de detalhes, que: 1) Bruno não estava de mochila; 2) no arremesso
do primeiro coquetel molotov ele estava bem visível na linha de frente dos
manifestantes, e a bomba veio de trás; 3) que dois indivíduos, um deles com
roupa semelhante à do que foi filmado jogando o coquetel (visto em outra
imagem) saem da manifestação, correm para o meio da PM, são barrados,
identificam-se aos gritos e em seguida os PMs permitem que os dois entrem no
grupo e se refugiem na retaguarda. A tese de que os dois são P2 (policiais
disfarçados, infiltrados para ações de provocação) levou a justiça a liberar
Bruno, pela análise das imagens.
Dois
episódios que mostram para onde o mundo está indo, mesmo que a gente não goste:
para a “sociedade transparente” que David Brin avistava em 1998 (ver: http://bit.ly/152RX7J ),
a cidade onde os espaços públicos estão vigiados por câmeras, gravando imagens
que podem ser usadas para reconstituir as ações de qualquer pessoa.