quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

2776) A Guerra de 12 (26.1.2012)




Houve várias “guerras de 12” referentes a 1912, e não duvido que 1812 tenha oferecido algumas guerras famosas também. A que conheço melhor é aquela que o advogado e fazendeiro Augusto Santa Cruz moveu, à frente de 200 jagunços, contra as autoridades de Alagoa do Monteiro, por duas vezes. Na primeira, em 1911, prendeu e desmoralizou todos, em praça pública, mas foi combatido, bateu em retirada e refugiou-se sob a proteção do Padre Cícero, enquanto os desafetos destruíam e incendiavam sua fazenda. Voltou em 12, reorganizou o bando, juntou-se a Franklin Dantas. Tornou a invadir Monteiro, e desta vez foi em frente, invadiu Taperoá, Patos, Santa Luzia do Sabugi, Soledade; foi derrotado apenas em São João do Cariri. A história dessa guerra está no brilhante livro Guerreiro Togado, de Pedro Nunes Filho.

Mas a Guerra de Doze a que me refiro é a que está em curso, a Guerra Digital entre as autoridades e empresas que pretendem interferir na troca livre de arquivos via Internet, e as empresas, grupos ou indivíduos que não admitem isso. Entre 19 e 20 de janeiro a polícia prendeu os responsáveis pelo portal Megaupload e tirou o saite do ar, e o coletivo Anonymous tirou do ar por algum tempo saites das autoridades, como o FBI, e de empresas. O que foi chamado nas redes sociais de Primeira Guerra Digital pode ter sido a primeira escaramuça de uma guerra maior. Até que ponto um lado tem poder policial e político para continuar fechando saites e aprovando leis de censura? Até que ponto o outro lado pode bloquear saites, e que outras formas de represália cibernética (ou não) ele pode utilizar?

Em 1992, Bruce Sterling lançou o livro The Hacker Crackdown, sobre a operação do Serviço Secreto norte-americano, que em 1990 invadiu a “Steven Jackson Games” e apreendeu material da empresa (em 1993 um tribunal considerou essa operação “executada sem cuidado, ilegal, e completamente injustificada”). O livro de Sterling mostra como a Internet recebeu o poderoso afluente das tecnologias telefônicas dos EUA para ser o que é. E foi também o primeiro livro (ou pelo menos o primeiro livro que já era sucesso de vendas) a ser oferecido gratuitamente para download. Neste momento, alguém envolvido nessas guerras deve estar juntando material para escrever um livro análogo. Ou o livro está sendo escrito ao mesmo tempo por pessoas que não se conhecem, em países diferentes, sem que elas mesmas tenham isto em mente; é um livro descentralizado, sem índice, sem ordem cronológica, um livro apenas páginas de texto que vão sendo digitadas no dia a dia por escritores tão anônimos que não sabem que são escritores.