quarta-feira, 21 de maio de 2014
3504) O Banco de Ferro (21.5.2014)
O Banco de Ferro só é de ferro simbolicamente. Na verdade ele é feito de números, uma linguagem diferente nos nobres ideais dos cavaleiros e fidalgos de casa real. O “real” deles não se refere a reis, mas a mil-réis, à contabilidade dos empréstimos, a dívidas, percentagens, financiamentos a prazo ilimitado e juros compostos, investimentos de olho no comportamento da coluna da direita, independente do que esteja descrito na coluna da esquerda. Os Bancos funcionam assim, desde os Templários e os judeus do Mediterrâneo até Wall Street.
O Banco de Ferro de Braavos começa a surgir na trama do seriado “Game of Thrones” (HBO). Por trás das batalhas, cercos e massacres de terra e mar que têm se sucedido no continente de Westeros, começamos a tomar conhecimento de uma guerra na surdina, uma guerra menos visível do que a dos estandartes e do fogo grego. É a guerra dos números. Quem deve mais do que pode pagar? Quem poderia vencer as batalhas militares, se tivesse mais capital? Quem pode se apresentar como um parceiro econômico mais favorável e lucrativo, independente de quem seja ou do que queira fazer com o que ganhar?
Corre o risco de o livro sexto ou sétimo das “Crônicas de Gelo e Fogo” vir a se chamar “Inside Job” ou “Margin Call”. Talvez seja uma idéia fixa de minha parte, um pesadelo-da-conspiração em que o mundo inteiro é um teatrinho que justifica e encobre a guerra de cifrões e ouro, a única real, a única que mexe no software das sociedades. Dez mil soldados podem ser degolados sem avanço militar significativo, mas dez mil moedas de ouro depositadas todas num mesmo ponto são peso suficiente para fazer mover alavancas gigantescas.
Os Lannister estão no poder, mas endividados, e por trás dos lambris e das tapeçarias da corte movimentam-se cifrões ágeis como répteis. Um reino sem ouro é algo tão artificial e sem fundamento quanto um cheque sem assinatura. A encenação do poder, mesmo capaz de brutalizar aqui, crucificar ali, massacrar acolá, não é nada sem lastro em padrão ouro. Para o Banco de Ferro, as conquistas militares alheias são verdadeiras festas. Todos recorrem a ele para pagar fantasias, alegorias, músicos, comida, bebida; uma guerra consome mais dinheiro do que um casamento real por dia. Alguém tem que pagar, e para pagar recorre a quem tem. “Quem tem” está muitas vezes financiando com a mão esquerda e vendendo os produtos com a direita. O Banco de Ferro não liga quem governe o continente, contanto que governe sob suas asas financeiras. O Banco de Ferro é uma ameaça tão subestimada e tão invisível quanto os dragões da Khaleesi, mas vai se tornando mais presente a cada temporada que passa.
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