domingo, 20 de novembro de 2011
2719) O torcedor símbolo (20.11.2011)
(Jaime de Carvalho)
O futebol tem um Panteão de craques, de artilheiros matadores, de goleiros imbatíveis, de grandes capitães. Os cartolas só entram para a História de raspão, resvalando, como notas ao pé de página em que depois de um capítulo inteiro de comentários sobre um título de campeão, alguém diz de passagem: “Aliás, isso foi na gestão de Fulano de Tal, e o supervisor de futebol era Sicrano”. Existe uma certa injustiça nisto, porque sempre houve e haverá grandes diretores. Homens de visão que sabem ousar na hora certa e que trabalham pelo clube, não pelos seus cofres pessoais.
E existe o torcedor-símbolo, que sem fazer muito marketing pessoal fica associado à memória coletiva do clube que amou. Alguns sozinhos, outros organizando pequenas charangas, precursoras das atuais torcidas organizadas, que em muitos casos distorceram e estragaram o espírito do “ser torcedor”.
Pra mim os torcedores-símbolo dos estádios eram (entre muitos outros) o raposeiro Papa Sebo, que levava uma bela e enorme (para os padrões da época) bandeira do Campinense em todos os clássicos; e o do Treze era Zé Pezinho, um lavador de carros que tinha um pé torto e uma infinita capacidade de esbravejar palavrões. Entre os dois se travava, a dezenas de metros de distância, um verdadeiro duelo de titãs por entre gritos e foguetório. (Sem esquecer, claro, Zé Preá, aquele que batia com a almofada no chão da arquibancada do PV e provocava um grito coletivo de resposta.)
O Flamengo teve (na minha infância) a charanga de Jaime de Carvalho, um cara de cabelo e bigode grisalhos cuja bandinha de percussões e sopros foi imortalizada no samba que diz “Flamengo, joga amanhã que vou vou pra lá... (...) Pode chover, pode o sol me queimar, eu quero ver a charanga do Jaime tocar...”. Algumas pessoas dizem “Jorge”, mas é por contaminação do São Jorge citado na estrofe anterior. Era Jaime mesmo.
O Botafogo (na minha infância) tinha Tarzan, um sujeito parrudo, tipo um Ivan Gomes carioca, eternamente com a camisa alvinegra, bradando e sofrendo na arquibancada. O Vasco tinha Dona Dulce Rosalina, uma mulher morena, magrinha, que naquele tempo causava uma certa perplexidade, acho, porque liderava um grupo de torcedores naquele vibrante (e geralmente inútil...) “cazá cazá cazá!”. E tinha Ramalho, um negro magro tipo Chuck Berry, de boné na cabeça, que soprava um talo de mamona e fazia sozinho um barulho ensurdecedor. (É o que dizem. Eu era menino, nunca tinha ido ao Maracanã, sabia dessas coisas pela Manchete Esportiva ou pela Revista do Esporte).
E o Fluminense? O Fluminense tinha Nelson Rodrigues. Pra vocês verem – até nisso o Fluminense é uma elite.
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