Neste balanço das leituras do ano constato que li pouca coisa dos meus gêneros preferidos, policial e ficção científica. Em colunas anteriores comentei, em outros contextos, alguns livros de FC/fantástico (A Guerra dos Mundos, High Rise, Ensaio sobre a Cegueira). Tenho que mencionar dois livros que não só li como traduzi, o segundo e o terceiro volumes da trilogia “Comando Sul” de Jeff VanderMeer, da Editora Intrínseca: Autoridade e Aceitação (este deve sair em 2016). VanderMeer criou um pesadelo tarkovskyano sobre um contato alienígena com a Terra, numa narrativa complexa, com diferentes pontos de vista de personagens inesquecíveis. É uma trama tão cheia de mistérios e de detalhes que pretendo reler os três livros como se fossem um só, daqui a algum tempo.
The Black Room de Colin Wilson (1971; lido em
fevereiro) é um thriller de espionagem com base ligeiramente FC: técnicas de
lavagem cerebral através do uso do “quarto negro”, uma câmara de privação dos
sentidos. Como sempre, Wilson é melhor no romance policial do que na FC; este
thriller tem algo de John Le Carré e seu final brusco obriga o leitor a deduzir
tudo que vem depois. E terminei a leitura de The Strength to Dream: Literature
and the Imagination (1962; lido em fevereiro), onde Wilson faz um balanço
meticuloso de dezenas de autores mainstream cuja obra roçou pelo fantástico,
além de autores fantásticos típicos como Lovecraft.
Fiz para a editora Aleph um posfácio para O Planeta dos
Macacos (1963; lido em março), que me lembrou mais uma vez a necessidade de
conhecer melhor a FC francesa, cujos autores se influenciam pela FC dos EUA com
tanta independência, tanta antropofagia. Tenho o hábito de não deixar passar um
ano sem ler um livro novo de Philip K. Dick: este ano foi a coletânea The
turning wheel (1977; lido em março). Acho que Dick era mais pulp fiction nos
contos e mais literariamente articulado nos romances. O lado bom dos contos é
que ele podia dar rédea solta a algumas idéias completamente surreais, sem se
preocupar muito.