terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
1634) O que é cyberpunk (7.6.2008)
(capa de Rick Berry para Neuromancer)
A FC “cyberpunk” surgiu na década de 1980, tendo como deflagradores William Gibson com o romance Neuromancer (1984) e Bruce Sterling com a antologia Mirrorshades (1986), que definiu o perfil do movimento.
A palavra, criada por Bruce Bethke, foi logo assimilada por autores que se identificavam com seu conceito básico: “high tech and low life”, “alta tecnologia e baixa classe social”.
As histórias cyberpunk lidam com personagens marginais, solitários e cínicos (o lado punk) num ambiente onde a cibernética e a informática controlam tudo, inclusive os corpos e cérebros humanos.
Uma típica história cyberpunk (tão típica que esta fórmula já se diluiu em clichê) mostra um indivíduo desajustado e sem rumo sendo contratado por uma megacorporação que precisa dos seus talentos para obter algum tipo de lucro.
Ele usa cabos, fios, etc. para conectar seu cérebro ao “ciberespaço”, o espaço virtual formado para conexão simultânea de todos os grandes bancos de dados, nos quais ele se infiltra como um mergulhador penetrando em vastas estruturas submarinas.
O título Neuromancer de Gibson pode ser lido como uma variante de “necromancer”, necromante, o feiticeiro que adivinha o futuro através da invocação do espírito dos mortos. O elemento “necro” (=morte) vira “neuro” (=nervos, fibras).
A antevisão do futuro não se dá aqui através do contato com o sobrenatural, mas do contato entre os neurônios do ser humano e as fibras ou cabos da máquina cibernética a que ele está plugado. O neuromante põe seu cérebro em contato com o cérebro cibernético do mundo, com esse novo Sobrenatural criado pelas máquinas, e que substitui o plano do espírito.
Por outro lado, o termo pode ser lido como “new romance”, um novo romance ou nova encarnação do Romantismo literário dos séculos 18-19. Existe na literatura cyberpunk algo do romantismo de Byron, Shelley e outros poetas que flertavam com a morte e o sobrenatural, e que se deleitavam com seu papel de marginais numa sociedade materialista, cautelosa, mesquinha, refratária ao sonho e à imaginação, além de inimiga do individualismo.
A palavra “romance” tem em inglês conotações que não tem em português; está mais ligada a obras de características imaginativas, não realistas, e o realismo é cultivado através da novela (“novel”). O título do primeiro livro de Gibson já traz em si uma proposta estética, a criação de um novo gênero.
Os romances “cyberpunk” de Gibson adotaram em muitos casos o tipo de narrativa distanciada e irônica dos detetives do romance policial “noir” (também usada em filmes como Blade Runner).
Seus heróis são marginais, descrentes, apaixonados por tecnologia, deslumbrados com a possibilidade de conexão total. E são uma espécie de bruxos: indivíduos com o inexplicável poder de perceber intuitivamente, no meio do caos e do excesso de informações, o que é relevante. Tal como os adivinhos da antiguidade, o neuromante sabe, mas não sabe como veio a saber.
1633) Dominguinhos (6.6.2008)
Não pude assistir à festa do Prêmio TIM de Música, no Rio, que homenageou o sanfoneiro e compositor Dominguinhos.
Pelo que vi na imprensa, foi uma festa belíssima. Espero que tenha sido tão bela quanto a que vi ontem no Teatro Tobias Barreto, em Aracaju, na abertura do VII Fórum Junino. O Fórum foi criado pela Prefeitura de Aracaju para acompanhar, com palestras, debates e projeções, as festas de São João, e discutir os caminhos que elas vêm tomando.
Entre os já homenageados do Fórum estão Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Humberto Teixeira, Marinês, Carmélia Alves, Genival Lacerda, etc.
As palestras do Fórum abordam a vida e a obra do homenageado, mas também discutem as manifestações folclóricas do Estado, o mercado de shows e de discos, a distinção entre diferentes ritmos, a história discográfica da música regional, etc. Um tema recorrente nas discussões é o curioso fenômeno do “forró eletrônico”, com seus ritmos do interior paulista, suas coreografias de lambada, suas dançarinas seminuas e suas letras que só falam de sexo.
A abertura do VII Fórum (terça-feira, dia 3) teve um debate sobre a carreira de Dominguinhos, com a presença do Prof. Paulino da UFSE, de Anastácia (parceira de Dominguinhos em cerca de 200 canções), do compositor Climério e do cantor Silvério Pessoa.
Dominguinhos lembrou episódios de sua carreira, recordou amigos e mestres, e divertiu a platéia com seu bom humor. Indagado sobre o seu notório medo de viajar de avião, ele confessou que muita gente já tentou dissuadi-lo, e que o próprio Luiz Gonzaga lhe disse certa vez: “Mas Dominguinhos, avião é uma coisa segura. Todo mundo viaja de avião: Sarney, Antonio Carlos Magalhães... O avião não cai com essas pestes, vai cair com a gente?!”
Indagado sobre as bandas de forró eletrônico, o mestre do forró tradicional foi generoso e diplomático:
“Olhe, quando a bossa-nova começou, todo mundo que tocava sanfona teve que parar. Ninguém queria saber mais de forró. Todo sanfoneiro foi tocar órgão, piano... Ficamos eu, Chiquinho do Acordeon, Caçulinha, e mais meia dúzia. Agora começaram essas bandas a fazer sucesso. Só em Fortaleza, terra de Waldonys, tem umas mil bandas. Eu acho que eles ainda não acharam um nome para botar na música deles, por isso chamam de forró. Mas é até bom, porque por causa dessas bandas o povo começou a falar em forró de novo, a imprensa voltou a cobrir o forró... Então, os forrozeiros agradecem”.
Depois, Dominguinhos fez um show, e teve a certa altura a participação da Orquestra Sanfônica de Aracaju. Foi bonito ver Dominguinhos e mais de 20 sanfoneiros tocando “Só quero um xodó” e o teatro inteiro cantando a plenos pulmões.
Numa cena assim a gente podia ver o poder multiplicador do gênio. Um grande artista não cria consumidores, cria discípulos e futuros mestres. O lema do VII Fórum diz: “O discípulo inovou a arte do mestre”. Essa é a diferença entre o artista que cria e o que se apropria.
1632) O Beletrista Teórico (5.6.2008)
Conheço o Beletrista Teórico desde que vim morar no Rio. Ele freqüentava o antigo Bar do Violeiro no Baixo Leblon, e findava a noite no Diagonal, tomando chope acompanhado da tradicional sopa de cebola com torradinhas.
Era um desses talentos loquazes, cachoeirísticos, um derramamento contínuo de idéias brilhantes, frases bem-humoradas, sacações originais. Conversar com ele pagava a noite, inclusive porque, diferentemente da maioria dos intelectuais de mesa de bar, não costumava criar polêmicas. Pelo contrário. Era um colaborador entusiasta.
O Beletrista tinha a mania de me dar idéias. “Olha, você não escreve ficção científica? Pois veja bem: alienígenas entre nós, só que são iguais a nós e passam despercebidos. Casam, têm filhos... Depois não sabem mais o que são! Já pensou? Um filme de ET existencialista!”
Eu dizia: “Taí, ninguém nunca tinha pensado nisso”. E ele, em pleno entusiasmo: “Claro! Olha, quando você terminar o livro, não esquece de me mandar, pra eu fazer uma revisão, ver se está tudo certo”.
Entendeu? O Beletrista Teórico é aquele cara que, se for amigo de Ronaldinho Gaúcho ou de Kaká, liga para ele numa terça-feira e diz: “Velho, tive uma idéia sensacional para um gol. É assim; você recebe na meia-lua, e parte com a bola na direção da esquerda. Quando os zagueiros fecharem, você corta para a direita de repente, eles passam, você atrai o goleiro e manda por cima dele... Que tal?”
A vantagem, no caso do futebol, é que ele não pode pedir ao jogador para “revisar o gol”.
O Beletrista Teórico é aquele cara para quem uma boa idéia corresponde a 50% de uma obra, e a execução aos outros 50. Nada disso, companheiro. Sem querer desmerecer o valor das boas idéias, eu diria que delas o chão do Amarelinho está repleto. Se você passar lá num sábado de noite com um aspirador de pó, vai chegar em casa com uma média de 2 ou 3 mil boas idéias que nossos gênios em potencial derramaram nababescamente pelo chão, ao longo de uma noite de chope.
O mundo está cheio de gente disposta a ter boas idéias, mas o que faz mais falta hoje em dia é gente disposta a sentar numa cadeira dez horas por dia, seis dias por semana, e botar essas idéias na ordem em que elas precisam ser botadas.
Um amigo que trabalhou no Globo me contou que de vez em quando o telefone tocava para Chico Caruso, ele atendia, desligava, e suspirava: “Mais um cara com uma ótima idéia para um cartum... O pessoal quer ficar com a parte boa, e deixar comigo o trabalho braçal”. A parte boa de um cartum é ter a idéia. O trabalho braçal é transformá-la num cartum publicável.
O mesmo ocorre com contos, romances, canções. Todo mundo tem boas idéias. Eu já tive no mínimo um milhão. Desse milhão de boas idéias resultaram algumas músicas, alguns livros. Não mais. Enquanto isto, o Beletrista Teórico liga para um amigo, grande Don Juan, e diz: “Tive uma idéia para uma noitada com uma garota. Você deita ela na cama, e...”
O Beletrista Teórico é aquele cara para quem uma boa idéia corresponde a 50% de uma obra, e a execução aos outros 50. Nada disso, companheiro. Sem querer desmerecer o valor das boas idéias, eu diria que delas o chão do Amarelinho está repleto. Se você passar lá num sábado de noite com um aspirador de pó, vai chegar em casa com uma média de 2 ou 3 mil boas idéias que nossos gênios em potencial derramaram nababescamente pelo chão, ao longo de uma noite de chope.
O mundo está cheio de gente disposta a ter boas idéias, mas o que faz mais falta hoje em dia é gente disposta a sentar numa cadeira dez horas por dia, seis dias por semana, e botar essas idéias na ordem em que elas precisam ser botadas.
Um amigo que trabalhou no Globo me contou que de vez em quando o telefone tocava para Chico Caruso, ele atendia, desligava, e suspirava: “Mais um cara com uma ótima idéia para um cartum... O pessoal quer ficar com a parte boa, e deixar comigo o trabalho braçal”. A parte boa de um cartum é ter a idéia. O trabalho braçal é transformá-la num cartum publicável.
O mesmo ocorre com contos, romances, canções. Todo mundo tem boas idéias. Eu já tive no mínimo um milhão. Desse milhão de boas idéias resultaram algumas músicas, alguns livros. Não mais. Enquanto isto, o Beletrista Teórico liga para um amigo, grande Don Juan, e diz: “Tive uma idéia para uma noitada com uma garota. Você deita ela na cama, e...”
1631) As células-tronco (4.6.2008)
Parece que o debate sobre células-tronco desenganchou no Supremo Tribunal Federal, e que de agora em diante as pesquisas podem prosseguir. A discussão pró e contra se arrastou durante anos. E todo o episódio foi mais uma vez um confronto entre a Igreja Católica e a Ciência. Eu ia colocar “entre a Religião e a Ciência”, mas achei melhor especificar. Cada crença religiosa tem seus dogmas, seus princípios, e eles são muito diferentes uns dos outros. As Testemunhas de Jeová, por exemplo, não permitem transfusões de sangue, porque em alguma altura da Bíblia há uma frase que parece proibir isto (embora transfusões certamente não fossem de uso da época, e a frase deva estar sendo usada noutro sentido).
A Igreja Católica é contra as pesquisas de células-tronco porque elas usam embriões, e do ponto de vista ético da Igreja constituem um crime contra a vida, semelhante ao aborto. Os defensores das pesquisas argumentam que os embriões utilizados são embriões já fecundados mas que não viriam a se desenvolver em seres humanos completos. São produtos de fertilização artificial, em proveta, e se destinam apenas à pesquisa, sem chance de “nascer”.
Em princípio em sou a favor das pesquisas científicas, porque pelo que já li existem grandes possibilidades de descobrirmos a cura para muitas doenças. A ciência tem um problema médico pela frente e procura resolvê-lo cientificamente. Se a Igreja Católica é contra, é um direito dela – mas como ficam os cidadãos que precisam da pesquisa e não são católicos? Eu, que não sou Testemunha de Jeová, acho que tenho direito a fazer transfusões de sangue, se preciso for. Respeito a religião deles, mas, como não pertenço a ela, me acho livre para agir de acordo com as minhas crenças, não com as crenças de A, B e C (que por sinal discordam todos entre si). Do mesmo modo, não sendo católico, não me acho na obrigação de obedecer às proibições da igreja do meu vizinho. Respeito, converso civilizadamente, coisa e tal, mas não posso agir de acordo com a crenças alheias. (Aliás seria interessante saber o que acham da pesquisa com células-tronco os meus amigos budistas, judeus, muçulmanos, taoístas, umbandistas e baha’i).
Mas eu defendo o patrulhamento feito pela Igreja, porque a Ciência tem dois defeitos: é excessivamente fria e impessoal, e se deixa manipular facilmente pelas corporações, pela indústria farmacêutica e outros grupos interessados em lucros. Se não existirem pressões como essa da Igreja, os laboratórios em breve estarão extraindo órgãos de pessoas vivas para comercialização (lembram do filme Coma?). O comércio de órgãos humanos no Nordeste, p. ex., onde o sujeito vende um rim por mil reais, é tão florescente quando o de DVDs piratas. A Igreja tem, pelo menos em tese, um compromisso humanista não condicionado pelo lucro, e precisa estar sempre segurando as rédeas da Ciência, senão... Leiam Admirável Mundo Novo (Huxley), leiam A Ilha do dr. Moreau (H. G. Wells).
1630) “Príncipe Caspian” (3.6.2008)
O segundo filme da série As Crônicas de Narnia, em cartaz na Paraíba, tem efeitos especiais bem bolados e usados sem exagero, um quarteto de protagonistas infanto-juvenis (o que é uma raridade no gênero, que geralmente se concentra em um ou dois) e uma trama de fantasia clássica – um reino em perigo, ameaçado por nobres ambiciosos. C. S. Lewis e seu amigo J. R. R. Tolkien geraram uma mega-franquia editorial e cinematográfica, mais de meio século depois que escreveram suas obras.
C. S. Lewis era um professor de Oxford, um sujeito erudito e profundamente religioso. Pertencia a um grupo de intelectuais de perfil semelhante que incluía Tolkien e Charles Williams. Denominavam-se “os Inklings”, e todos escreveram histórias fantásticas ou de ficção científica. Lewis e Tolkien tinham uma daquelas amizades polêmicas, feitas de profundo afeto mútuo e profundas divergências (Lewis era anglicano, Tolkien era católico). Tolkien estava escrevendo sua série do Senhor dos Anéis desde 1937 com O Hobbit; os três volumes principais da trilogia saíram entre 1954 e 1955, embora Tolkien já viesse trabalhando neles há mais de dez anos. Lewis, por sua vez, publicou toda a série “Narnia” entre 1950 e 56. Os dois costumavam ler trechos dos respectivos manuscritos em suas noitadas literárias em Oxford. Tinham numerosos pontos de concordância e de divergências, e hoje não há dúvida de que essa relação de crítica e encorajamento recíproco contribuiu muito para o alto nível literário de ambas as séries. A gente sempre escreve melhor quando sente que tem leitores atentos, respeitosos e exigentes, ainda mais quando são amigos, e amigos mais chegados a um debate do que a fazer elogios protocolares e mudar de assunto.
Este segundo filme de Narnia mostra o quanto o universo de Lewis se parece com o de Tolkien. Em ambos, coabitam seres humanos e seres fantásticos ou mitológicos. Em Tolkien são os elfos, hobbits, anões, orcs, etc. Em Lewis são faunos, centauros, animais falantes. O mundo de Tolkien se situa no planeta Terra, mas numa época antiqüíssima, anterior à nossa; Narnia é um outro mundo, paralelo ao nosso, que pode ser acessado através de “fendas” em lugares especiais (como o guarda-roupa mostrado na primeira história).
O leão Aslan, em “Narnia”, é um símbolo de Cristo: ele morre e ressuscita, serve como um símbolo de grandeza moral, ajuda as crianças a enfrentarem seus inimigos mas na maioria das vezes se mantém à distância, intervindo apenas em alguns momentos. Em Príncipe Caspian há um momento em que Lucy diz ao leão: “Eu sabia que você estava aqui, mas os outros não acreditaram em mim”. E Aslan responde: “Mas, se você acreditava, por que não veio?” É uma resposta cristã e sábia, porque na verdade a medida de uma fé é o tipo de conseqüências que ela produz em nossa atitude diante da vida. Se você acredita em alguma coisa, por que não vai atrás dela? Por que não pratica?
1629) O Teletroscópio (1.6.2008)
Os espectadores do Jornal Nacional viram recentemente uma matéria a respeito de duas estruturas estranhíssimas surgidas em Nova York e Londres. Elas se assemelham à entrada de túneis ou às extremidades de algum gigantesco cano metálico, revestido de adornos que lhe dão uma aparência meio século 19. Só que a enorme abertura, por onde algumas pessoas poderiam entrar sem dificuldade, é tapada por um vidro, e podemos apenas espiar através dela. Surpreendentemente, um transeunte londrino que espie do seu lado verá, no que parece ser a extremidade oposta do enorme tubo, uma paisagem de Nova York; e um espectador novaiorquino verá, como se estivesse a apenas algumas dezenas de metros, uma paisagem de Londres.
A matéria da Globo foi simpática, mas não pôde aprofundar a descrição da engenhoca, que foi batizada de “Teletroscópio” por seus criadores. A idéia por trás do Teletroscópio é dar a impressão de que um enorme tubo retilíneo foi escavado terra adentro, ligando com uma linha reta as duas cidades. Se imaginarmos a curvatura da Terra como um arco de círculo, o tubo seria a “corda” desse arco, ligando os dois pontos pelo caminho mais curto, subterrâneo.
O projeto do Teletroscópio pode ser visto por inteiro no seu próprio websaite, que traz boas ilustrações sobre esse tubo fictício: http://tinyurl.com/4rb3pz. O saite conta a história fictícia de Alexander Stanhope St George (1848-1917), um inglês que, sendo admirador das grandes obras de engenharia, decidiu construir um túnel ligando Nova York a Londres, para que as pessoas pudessem fazer o trajeto por terra, e não por mar. Depois de constatar que o traslado dos passageiros envolvia uma série de dificuldades, ele alterou o plano para a construção de um gigantesco aparelho óptico através do qual as pessoas pudessem ver-se mutuamente, mesmo a milhares de quilômetros de distância.
As escavações tiveram início numa ilha descoberta por Stanhope no Atlântico, mais ou menos a meio caminho entre os dois continentes. Nela foi aberto um túnel vertical que, a certa profundidade, estendia-se lateralmente em dois sentidos opostos, rumo à Inglaterra de um lado e do outro rumo aos EUA. Depois de construídas as “saídas”, foi montada uma complicada aparelhagem de espelhos e de recursos de ampliação óptica, para fazer com que as imagens pudessem atravessar a enorme distância sem perda de qualidade.
Todo o projeto do Teletroscópio pode ser encarado como um romance de ficção científica complementado por uma obra de engenharia que lhe serve de ilustração. Claro que o túnel não existe, e mesmo que existisse dificilmente as pessoas poderiam se avistar de uma extremidade à outra com recursos puramente ópticos. O que existe é um sistema de câmaras de TV que transmitem as imagens de uma ponta à outra. Mas é belo o conceito do Teletroscópio como uma síntese entre a tecnologia do século 21 e a força imaginativa do século 19.
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