Volta e meia a imprensa faz matérias com um sujeito
porque ele publica cinco livros por ano. Não entendo essa admiração, porque se
me pagassem bem eu publicaria não cinco, mas dez. Quem publica livros em excesso pertence sem
dúvida à escola asimoviana do “Revisar, nunca!”. Isaac Asimov gabava-se de escrever um conto
do começo ao fim sem voltar atrás, e quando escrevia “The End” no final
colocava as páginas num envelope e as remetia para uma revista. Segundo ele, o
sujeito que fica agonizando durante uma semana em cima de uma frase, procurando
a forma ideal, nunca vai publicar o livro, e eu atesto que é verdade,
oferecendo a mim mesmo como o melhor exemplo. (Já que nunca alcançarei sucesso
popular, persigo a perfeição, que é mais acessível.) O problema é que nem
todos, aliás bem poucos, têm um primeiro-texto tão limpo, tão claro e tão bem
acabado quanto o de Asimov. Tenha os
defeitos que tiver (e tem vários), o texto do Doutor é profissionalmente
impecável.
Não sei se é o caso de James Patterson, que um artigo
de Danilo Venticinque na revista Época aponta como o escritor mais bem pago
do mundo. Diz ele que os 102 livros de
Patterson “venderam 220 milhões de exemplares e o levaram 63 vezes à respeitada
lista dos mais vendidos do The New York Times – um recorde na história do
jornal”. Descontando o fato de que não tenho a mínima confiança nessas listas
de “mais vendidos” da imprensa (são todas fajutas), é um número interessante.
Patterson lançou 14 livros em 2011. Como ele consegue?
Nas telenovelas, um autor centraliza o enredo, cria
os personagens, e uma equipe fica encarregada do trabalho braçal de escrever as
cenas linha por linha. Alexandre Dumas trabalhava assim. O autor é o capitão do
navio, que determina o curso, e tem sempre em mente todas as variáveis, para
tomar as decisões estratégicas; o redator é o cara a quem cabe escrever a cena
da briga ou a cena do namoro, de acordo com as instruções recebidas. Edgar
Wallace e Erle Stanley Gardner, mestres do romance policial, ditavam os
capítulos no gravador e mandavam datilografar. São autores que funcionam bem em
voz alta. Outros preferem trabalhar em dupla: Ellery Queeen é o pseudônimo de
Frederick Dannay, que escrevia sinopses detalhadíssimas de 40 páginas, e
Manfred Lee, que a partir delas escrevia as cenas, as ações, o diálogo.