sábado, 31 de dezembro de 2011
2753) Criação aleatória (30.12.2011)
Na revista Edge (http://bit.ly/vmEGf8), o biólogo Mark Pagel estuda o modo como o pensamento criativo se dissemina no interior das sociedades, e o compara com a evolução biológica.
Esta se dá através de pequenas mutações aleatórias em nossos genes, ao serem passados dos pais para os filhos. Muitas vezes não dão certo, mas às vezes dão, e “uma das coisas mais notáveis da natureza é que a seleção natural, atuando sobre essa variação genética gerada sem controle, é capaz de achar a melhor solução entre muitas, e sucessivamente incorporar essas soluções umas às outras. E, através desse processo extraordinariamente simples e não controlado por ninguém, criar coisas de complexidade inimaginável”.
Pagel compara isto ao que ele chama de “aprendizado social” (“social learning”), o processo através do qual as novas idéias são avaliadas pelo grupo, umas são descartadas, outras aceitas:
“Qualquer processo evolutivo dessa natureza precisa ter tanto um mecanismo de escolha, uma seleção natural, quanto o que podemos chamar de mecanismo generativo, um mecanismo capaz de criar variedade”.
Muitíssimas vezes o que o pensamento criador faz durante mais tempo é andar às cegas, tatear, dar saltos no escuro, escolher um caminho em vez de outro, sem saber exatamente por que este e não aquele. Tentar combinações ao acaso, produzir reviravoltas sem razão aparente, inserir elementos que não sabe exatamente o que são... tudo isto faz parte da atividade criadora na arte, na ciência, na literatura, etc.
Cria-se (mecanismo generativo) sem muita preocupação com a lógica ou o planejamento; e depois passa-se um pente fino no que foi criado (mecanismo de escolha).
Pagel enfatiza a importância do fator randômico, ou aleatório, em “qualquer processo evolutivo que consiste na exploração de um espaço desconhecido, tal como se dá com os genes, ou com os neurônios explorando o espaço desconhecido em nosso cérebro e tentando criar conexões, ou com as nossas mentes tentando produzir idéias novas e explorando o espaço de alternativas que nos conduz para o que chamamos de criatividade”.
Meu conselho aos jovens artistas: produzam intuitivamente, levados pelo instinto, sem planejar. O planejamento nos traz de volta à repetição. Quando pensamos racionalmente, em geral, estamos repetindo modos de pensar que aprendemos, que já são consagrados, coletivos.
A criação (artística, científica, etc.) precisa lidar com hipóteses absurdas, argumentos sem provas, descobertas inexplicáveis, elementos aparentemente sem sentido. Somente depois devemos ligar o “mecanismo de escolha” para achar o equilíbrio entre o aprendido e o recém-descoberto.
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