Defenestramos o vereador Romualdo Bimbim, notório apostador de brigas-de-galo, administrador de uma camuflada rede de cambistas de ingressos de futebol e de shows de axé, devorador de picanhas gratuitas no restaurante Panela Cheia, cujo dono chantageava mercê de uma obscura transação de alvarás falsificados, comedor de menininhas selecionadas a dedo nas favelas por duas ou três assistentes sociais cuja mão ele molhava com perfumes de contrabando, notório incomodador da vizinhança em dias de jogos do Real Madrid cujos gols eram celebrados com foguetório e balbúrdia.
Defenestramos o dr. Aristarco Pompeu, rábula de porta de
delegacia, rabiscador de habeas-corpus de emergência para playboys que reagem
com bafafá à menor ameaça de bafômetro, assacador de consumidores
inadimplentes, meeiro de indenizações fraudulentas despachadas na calada da
noite mediante segredo de justiça e propinas pontuais, calígrafo-forjador
emérito de chancelas e rubricas, viciado compulsivo em café, cigarros, baralho
e rivotril.
Defenestramos a Dra. Vanessa Kamylla, socialite militante,
perua por questão de foro íntimo, professora doutora em alguma coisa que ela
nem lembra mais, futura herdeira de terrenos devolutos que abrigam parte da
cracolância local, patronesse de feiras, quermesses, leilões, bazares e
festivais de caridade, enóloga intuitiva com má memória para nomes e datas,
aliciadora de conluios políticos à sorrelfa, colecionadora de cartões de
crédito, habituê de shoppings de Miami e de cruzeiros no Caribe, esposa
acarinhante e langorosa do septuagenário Dr. Cordeiro.
Defenestramos Deda Cambão, empresário no ramo de
import-and-export, colecionador de Rolexes e de iPhones, candidato à perda da
barriga mediante jet-ski e piscina térmica, membro do conselho de onze
sociedades patronais, cognominado Narina de Titânio pelos colegas do clube
Quintas Sem Lei, embolsador-sênior de comissões, percentagens e por-foras,
campeão inconteste de cavalo-de-pau na madruga em pleno retão.