Um “hoax” (ou “uma hoax”, nunca se sabe, com esses nomes neutros do inglês) é uma farsa, uma falsificação montada de propósito para parecer verdadeira. Na literatura, geralmente consiste na atribuição de um texto a alguém que não o escreveu. Pode ser um personagem famoso, como no caso dos diários falsos de Hitler comprados e publicados pela revista alemã “Stern” nos anos 1980. E pode ser uma pessoa desconhecida (ou supostamente existente) cujos escritos teriam suficiente interesse literário ou humano para justificar a publicação, como no caso do fictício viciado em drogas J. T. Leroy (ver aqui: http://tinyurl.com/qdugcw9). Esta página do saite Abebooks lista (e oferece à venda por preços módicos) hoaxes literários de todo tipo, inclusive alguns clássicos como “As Canções de Bilitis”, de Pierre Louys, atribuídas a uma poetisa grega (aqui: http://tinyurl.com/pu5ty5b).
A literatura, contudo, sempre recorreu
ao hoax, mesmo que de modo mais aberto, mais franco. A literatura do século 19
está cheia de obras cuja autoria é atribuída, pelo verdadeiro autor, a um
personagem. Em geral são “manuscritos” que
o autor do livro diz ter herdado, ou descoberto, ou recebido anonimamente pelo
correio. É um recurso tão habitual que Umberto Eco, que o utiliza em “O Nome da
Rosa”, intitula o capítulo de abertura do livro assim: “Um manuscrito,
naturalmente”. Qualquer leitor já sabe.
Os heterônimos de Fernando Pessoa
poderiam ter funcionado como “hoaxes”, nas mãos de alguém mais pragmático.
Borges e Bioy Casares poderiam se quisessem fingir que H. Bustos Domecq era uma
pessoa real, e teriam uma boa chance de serem acreditados. Há autores que ainda
dizem: “Encontrei um manuscrito misterioso de autor desconhecido contando a
seguinte e extraordinária história”. Outros já dizem assim: “Conheço um autor
chamado Fulano, que vive assim e assado, e eis as coisas extraordinárias que
ele escreve.”