quarta-feira, 3 de setembro de 2014

3594) Film noir (3.9.2014)


Mulligan é um motorista de ônibus, perdidamente apaixonado por sua amante, Norma, que faz dele gato e sapato e o endoidece a ponto de crime.  Mulligan foge da cidade e se refugia na casa de seu tio-avô em Minesotta, num pé de montanha coberto de neve onde só se fala em indústria madeireira, televisão e folclore. Vai trabalhar no posto de gasolina do casal Stanley e Wilza Carvalhal, um casal anglo-português que há muitos anos se estabelecera ali. Mulligan vira testemunha das brigas constantes do casal. Começa a namorar com Sula, uma portorriquenha que foi o mais próximo que ele encontrou de um ser humano por ali. No dia em que o velho Stanley tem um enfarte no meio de um caso mais áspero de discutir-a-relação, a mulher se apavora, pega o carro e sai sem rumo. Mulligan abre a registradora, embolsa tudo, o equivalente a três meses de salário, e foge tranquilo, visto que a morte do velho foi natural.

Bares de Saint Louis, numa certa época, depois de uma certa hora da noite... Bares são bons lugares para que aconteçam coincidências. “Não é possível, você! o que você está fazendo aqui?” – achamos isso difícil quando na verdade é quase obrigatório. Até as pedras se encontram. Quem frequenta bar sabe onde encontrar quem bar frequenta. Mulligan, oito anos mais velho e algumas classes sociais mais acima, encontra com Wilza. Que aliás era de origem uma loura-platinada brasileira, que o velho Stanley conhecera num cassino vegetariano no Estoril. Ele está numa convenção, ela veio entrevistar um possível cliente. Os dois decidem tomar um uísque para lembrar os velhos tempos e comomorar os novos, visto que ambos se sentem agradavelmente surpresos com o tom geral de juventude alegre e sadia, e com problema de classe social resolvido, que fantasiam ver um no outro.

E o inevitável acontece. Por aquela mulher bronzeada e de cabelos de agave Mulligan larga Sula e as três crianças, rouba um banco, indispõe-se com a ramificação mafiosa a que viera a pertencer, vê todas as suas posses e as suas contas bancárias colocadas automaticamente sob bloqueio eletrônico, vê-se acossado por insistentes celulares que tocam em todos os espaços disponíveis, rouba um carro, explode um hidrante, abalroa carroças do leite e táxis lerdos. Uma verdadeira caçada humana se desencadeia, com ele ao volante e Wilza cobrindo-o de socos, dizendo que ele é um estúpido e acaba de botar tudo a perder. Ele não sabe mais contra quem está combatendo, e se tivesse três braços poderia pilotar o carro, mantê-la sob controle, fuzilar com a submetralhadora os inimigos à direita e à esquerda, para que os carros convergissem todos numa só explosão.