Eu me lembro da campanha eleitoral para a Prefeitura de Campina, entre Newton Rique e Severino Cabral, em que os partidários de Newton chamavam Cabral de “Pé de Chumbo”, porque ele era popular e grosseirão, e os cabralistas chamavam Newton de “Mão de Seda”, porque ele era rico e granfino. E o programa de rádio de Newton usava como característica a música “Pé de Anjo” de Sinhô (aquela que dizia: “Tens o pé tão grande, o pé tão grande, que és capaz de pisar nosso senhor”).
Eu me
lembro (até porque nos arquivos da família ficou uma foto desse dia) de alguma
comemoração ou festa que houve no campo do Paulistano (na av. Assis
Chateaubriand, onde hoje se ergue um hipermercado ou coisa parecida) num dia de
sol inclemente, e eu devia ter uns 8 anos e estava tomando guaraná, e meu pai
tomava cerveja, e eu de brincadeira pedi para provar, ele me deixou tomar um
gole, era uma coisa amarga que parecia remédio, e eu disse: “Que negócio ruim
danado, nunca mais eu bebo isso”.
Eu me
lembro que antes dos desfiles do 7 de setembro os colégios costumavam ensaiar,
ou seja, num dia qualquer de agosto o Alfredo Dantas inteiro ia para o meio da
rua, interrompia o trânsito, se organizava nuns 10 ou 12 pelotões, descia
marchando, com banda e tudo, pela Praça da Bandeira, Irineu Joffily, dava a
volta ao Açude Velho, subia pela Vila Nova da Rainha, pegava a Vidal de
Negreiros e voltava; todo mundo gostava porque nesse dia só tinha a primeira
aula, e depois do ensaio todo mundo era liberado para ir pra casa.
Eu me
lembro de uma vez em que meu pai me levou para ver um filme de aventuras no
Cine Babilônia, entramos, assistimos os trailers, e na hora do filme começar as
luzes se acenderam e veio um funcionário falar com meu pai, dizendo que como eu
tinha menos de 10 anos não podia assistir o filme, que era proibido para
menores dessa idade. Houve uma certa argumentação, mas acabamos saindo, subimos
para o Capitólio e assistimos o filme de lá, que já tinha começado quando
entramos. Não lembro mais quais eram os filmes.
Eu me
lembro de uma vez em que, voltando do Colégio Estadual à noite, no ônibus da
Prata, a gente fez tanta bagunça dentro do ônibus que em vez de rodear a Praça da
Bandeira e parar no ponto final, junto ao Correio, o motorista, furioso, subiu a
Floriano Peixoto inteira e largou a gente diante da Delegacia, que naquele
tempo ficava em frente à Catedral.
Eu me
lembro que uma vez, quando eu trabalhava no Diário da Borborema, foi uma
senhora lá na redação. Ela precisava (para anexar a um processo trabalhista ou
algo assim) de um exemplar do jornal, de 4 ou 5 anos atrás. Aí ela foi
encomendar ao editor que se reimprimisse
um exemplar inteiro do jornal, para
ela. O editor mandou buscar um jornal no arquivo (jornais mais recentes
tinham cópias erxcedentes guardadas, justamente para isso) e deu a ela. Aí
virou para a gente e disse: “Vejam como é a idéia que o público tem do que é a
impressão de um jornal”.
Eu me
lembro que numa noite no final de 1968 eu fui à casa de Jakson e Marcos Agra
para me encontrar com meus amigos Marcelo, Sérgio e Bolívar, da banda Os
Sebomatos, que queriam conversar comigo. Eles me chamaram para tocar na banda,
que entre outras coisas fazia cover dos Beatles. Eu falei que ia pensar, porque
na época era presidente do Cineclube de Campina Grande e não sabia se dava para
acumular as duas coisas. Voltei para casa, já tarde da noite, liguei o rádio e
soube que acabava de ser promulgado o Ato Institucional no. 5. Eu pensei: “O
Cineclube vai ser fechado. Eu vou é tocar na banda”. Dito e feito.