Cientistas italianos foram condenados por não terem sido
capazes de prever com segurança, em 2009, um terremoto que matou quase 300
pessoas, na cidade de L’Aquila. Os cientistas eram membros da Comissão Nacional
para Previsão e Prevenção de Grandes Riscos, e incluía pessoas ligadas às áreas
de sismologia e vulcanologia. A sentença alegou que eles deram declarações
contraditórias quanto à possibilidade de que, depois que ocorreram alguns
pequenos tremores, viesse um terremoto maior. Sem um alerta formal, a população
ficou em casa, e muita gente morreu. Foi o maior terremoto ocorrido na Itália
desde 1980.
O caso estava em julgamento desde então, e a sentença de
condenação (da qual os advogados, claro, já recorreram) provocou uma
inquietação danada nos círculos científicos.
Os cientistas ficam numa encruzilhada dos diabos numa situação assim. Por um lado, um dos aspectos de que a Ciência
mais se orgulha é de sua capacidade de prever resultados de experiências ou de
fatos do cotidiano, pela simples compreensão das leis físicas que o determinam.
Quando a Ciência entende um processo, ela é capaz de dizer: “Se as coisas estão
assim, em tal-ou-tal momento ficarão desta outra forma”.
O problema é que justamente em áreas como sismologia (e
vulcanologia, meteorologia, etc.), nunca se pode ter uma certeza absoluta. É um
mundo parecido com o dos fenômenos sociais, das ciências humanas: o que se tem
são condições básicas, indícios eventuais e tendências futuras. Conhecendo as condições, é possível
interpretar os indícios recolhidos hoje e imaginar que tipo de consequência
futura eles podem ter. Mas isso nunca é uma certeza. Com relação ao clima e às profundezas do
subsolo, as variáveis envolvidas são numerosas demais para permitir uma
“profecia” – e a Ciência nos acostumou a pedir profecias, certezas.