Ninguém estranhou quando o fantasma de Lord Ambersonville apareceu na hora exata em que sua viúva se casava com o General O’Leary. A noiva o viu mas manteve o controle até o sim, a assinatura, o desmaio.
Mary Nowalski,
de Boston, comprou num brechó uma mala de viagem seminova, e cada vez que a
arruma para viajar vê ali roupas que nunca teve, com sedas e estampas
primaveris, tailleurs de banqueira, roupas que se desfazem no ar quando ela
tenta vesti-las.
Em um
restaurante de Lobito, em Angola, um gerente recebeu (e guardou) uma nota
assombrada de “kwanza”, a moeda local, cuja efígie, após a meia-noite, é
substituída por um gif animado e sorridente do ex-ditador português Oliveira
Salazar.
O Prof. Sérvio
Lomanto, de Londrina, tem na parede de seu escritório uma cópia emoldurada e
envidraçada da “Declaração Universal dos Direitos do Homem”, na qual aparecem
de vez em quando palavras dadas como mortas, tais como virente, anspeçada,
sotoposto, lufa-lufa, ergástulo, lornhão.
No iglu onde
moram seus pais já idosos, o esquimó Aran avistou um fogo mal-assombrado,
pequena fogueira junto à parede do iglu, com chamas se agitando mas sem
produzir calor, e sem queimar as mãos que passam através delas como se não
existissem, mas mesmo assim não há como sossegar os velhinhos.
O Dr. Yurgen
Walloo, de Fort Lauderdale, descobriu que a ocorrência de fantasmas, ou seja,
projeções sensíveis de uma impressão de presença de um ser já morto, é muito
menos comum nos seres humanos do que nas plantas, onde é tida como fato
natural.
Laura Potthill,
do Wisconsin, descobriu no aquário de sua sala uma mancha luminosa que se movia
em sincronismo com os movimentos do seu peixinho Galahad, e deduziu que seria a
aura espiritual da referida criatura.
Foi na tenda do
funileiro Argat Ahramadul, numa viela sossegada de um subúrbio antióquio, que
brotou uma serpente verde e transparente coleando pela cidade, durante dois
dias, e na qual todo mundo reconhecia um antigo burgomestre local.
Perto de São
João do Cariri tem uma estrada lateral de duas léguas e no final uma casa velha
de paredes de taipa, com teto de ripas e telhas, onde num recanto, por trás do
pedestal vazio da TV, o fantasma de uma aranha mantém a teia limpa de moscas há
tempos imemoriais.