(A Morte de Sócrates)
São evidentes as semelhanças entre a Cultura Digital de hoje
(Internet, mp3, computadores, smartphones, etc.) e a Cultura Oral de
antigamente (comunidades rurais, tecnologia zero, contatos face-a-face, etc.).
Esa Cultura Oral é a tese, o início; a Cultura Moderna urbana (a indústria, a
tecnologia, o comércio) é a antítese, que veio para produzir algo novo. A
Cultura Digital vai ser essa síntese, quando se instaurar por completo dentro
dos nossos hábitos, do nosso cotidiano e principalmente dentro do nosso mercado
de trabalho (ou seja, quando for possível ganhar a vida no interior dela).
Na Cultura Oral, as criações artísticas (histórias,
anedotas, canções, danças) eram feitas por indivíduos mas esse autor isolado
rapidamente desaparecia, e até mesmo não fazia questão de aparecer. Na
modernidade (a indústria fonográfica, editorial, etc), o autor individual
passou a ser reconhecido, celebrado, remunerado. A Cultura Digital está nos
levando de volta à situação anterior. O que é necessário é fazer uma síntese entre
os aspectos positivos de uma e de outra.
Na Cultura Oral, as pessoas produziam histórias e canções
para falar de si, para comentar a vida comunitária, para exprimir seus impulsos
de transcendência (refletir sobre o mundo, a vida). Foram os “primitivos” que
inventaram o conceito de “Arte pela Arte”, não foram os burgueses. A burguesia (o mundo moderno) impôs de vez o
conceito de Arte por Profissão. (E olhe, nada tenho contra isto – sou um
artista profissional.) Como vamos fazer a síntese? Porque o mundo nos empurra
(caso o mundo não acabe por outros fatores) cada vez mais na direção de um
futuro voltado à Arte pela Arte.