O planeta de
Aldebarã-5 tem uma civilização influenciada pelos colonizadores
terrestres. Seu vocabulário exprime as
características da natureza do planeta e o seu modo de observar os fenômenos da
psicologia e da cultura. Confiram os
verbetes abaixo, recolhidos, meio ao acaso, do Pequeno Dicionário
Interplanetário de Bolso.
Astorn – Um momento breve de prazer ou de alívio durante
um período de estresse pessoal; geralmente simbolizado em coisas sem grande
valor material, como uma lufada de brisa num dia de calor, um copo de água
gelada para uma pessoa sedenta, alguns minutos de silêncio no meio de um
trabalho ruidoso e estafante. A palavra tem a conotação de uma coisa minúscula
mas que é boa em si mesma, sem excesso de louvor e sem espaço para ressalvas.
Laning: Mangueirinha de borracha que se adapta às
torneiras e produz um jato fino e concentrado, sob pressão, usado
principalmente para lavar os dentes após as refeições, removendo resíduos e
impedindo a formação de placa bacteriana; substitui com vantagem os palitos e
os pedaços de linha-de-costura.
Ragum-Ragum: Onomatopéia com intenção ameaçadora
reproduzindo o ruído das grandes máquinas de metal (fornalhas, motores, etc.),
que parecem a ponto de explodir ou de avançar mortalmente sobre as pessoas que
estão próximas. E também se usa com conotação irônica, para designar uma
situação qualquer que parece aterrorizante mas acaba se revelando inofensiva ou
banal.
Vi-Carvieris: a sensação pervasiva de irrealidade que nos
acomete durante alguns minutos em situações de cansaço extremo, falta de sono, leve
embriaguez, desorientação etc., fazendo-nos acreditar que nada daquilo à nossa
volta é real, que nada daquilo está acontecendo de verdade.
Dundos: pequenos tambores distribuídos com a platéia nos
espetáculos ao ar livre, para que todos possam acompanhar os números executados
pelos músicos no palco, em longas sessões de improvisos nas quais a platéia é
“regida” pelos músicos. Os dundos ficam colocados embaixo dos assentos, e
ninguém é obrigado a usá-los; por outro lado, tentativas de bagunçar a execução
coletiva são reprimidas de forma delicada mas firme.
Gellibar: Processo educativo usado nas escolas de
crianças pequenas, em que forma-se uma roda e as crianças são estimuladas a
lembrar fatos importantes que lhes aconteceram nas últimas semanas, os quais
são discutidos coletivamente. Estes encontros periódicos ajudam a ir formando
nelas um conjunto de lembranças autobiográficas que ajuda em seu
desenvolvimento.
Birij: Nome que se dá a qualquer objeto, ao ser usado
para produzir uma dor não muito intensa, quando aplicado ao corpo: uma pinça,
uma lâmina pouco afiada, uma extremidade pontuda, etc. Os aldebaranes as empregam, por um misto de
ciência e superstição, com o intuito de desviar a atenção de uma pessoa da dor
mais forte que está sentindo. Se alguém está com uma forte dor de dentes, ou em
algum órgão, o uso de um “birij” é aplicado no músculo do braço, ou nas costas
da mão, ou na batata da perna, na crença otimista de que uma segunda dor
ajudará a reduzir a dor principal que a pessoa sente.
Iskrymio: Sistema de aprendizado que vigora nas oficinas,
ateliês, etc., em que os candidatos a emprego inscrevem-se numa fila por ordem
de habilidade e de conhecimento das várias tarefas a serem executadas. Cada
aprendiz torna-se, durante algum tempo por dia, “mestre” do aprendiz que está
logo abaixo dele na lista, checando seu conhecimento e ensinando-lhe a
habilidade mais urgente no momento, e assim por diante. Desse modo, todos são
aprendizes e mestres simultaneamente, e cada novato precisa galgar posições ao
longo do “iskrymio”.
Armivéris: miragens atmosféricas muito frequentes nos
continentes do hemisfério norte, devido a bruscas mudanças de temperatura e à
evaporação das águas; nesses episódios, que chegam a durar mais de meia hora, o
horizonte visível parece erguer-se, revelando a parte oculta por trás da sua
linha-limite, e dando a impressão de que o chão do planeta ergueu-se e está se
dobrando sobre si mesmo, revelando florestas, desfiladeiros, montanhas, etc.,
que normalmente estão invisíveis ao observador.
Coc-Nambure e Kic-Nambure: O sentido aproximado é de
“Coincidências e Descoincidências”, ou “Rimas e Não-Rimas”. Os aldebaranes têm
como passatempo colecionar coincidências ou rimas da vida real, por exemplo: ver
passar na rua uma mulher de blusa azul e saia amarela, e logo na rua seguinte,
em outro contexto, encontrar outra mulher com a mesma combinação de cores. A
“não-rima” é quando algo parecido ocorre ao revés: p. ex., quando num dia
conhecemos um pai e um filho, e no dia seguinte outro pai e outro filho com os
nomes trocados em relação ao primeiro par.