quinta-feira, 6 de junho de 2024

5069) Dicionário Aldebarã XXVI (6.6.2024)



 

O planeta de Aldebarã-5 tem uma civilização influenciada pelos colonizadores terrestres.  Seu vocabulário exprime as características da natureza do planeta e o seu modo de observar os fenômenos da psicologia e da cultura.  Confiram os verbetes abaixo, recolhidos, meio ao acaso, do Pequeno Dicionário Interplanetário de Bolso. 
 
Astorn – Um momento breve de prazer ou de alívio durante um período de estresse pessoal; geralmente simbolizado em coisas sem grande valor material, como uma lufada de brisa num dia de calor, um copo de água gelada para uma pessoa sedenta, alguns minutos de silêncio no meio de um trabalho ruidoso e estafante. A palavra tem a conotação de uma coisa minúscula mas que é boa em si mesma, sem excesso de louvor e sem espaço para ressalvas. 
 
Laning: Mangueirinha de borracha que se adapta às torneiras e produz um jato fino e concentrado, sob pressão, usado principalmente para lavar os dentes após as refeições, removendo resíduos e impedindo a formação de placa bacteriana; substitui com vantagem os palitos e os pedaços de linha-de-costura. 
 
Ragum-Ragum: Onomatopéia com intenção ameaçadora reproduzindo o ruído das grandes máquinas de metal (fornalhas, motores, etc.), que parecem a ponto de explodir ou de avançar mortalmente sobre as pessoas que estão próximas. E também se usa com conotação irônica, para designar uma situação qualquer que parece aterrorizante mas acaba se revelando inofensiva ou banal. 
 
Vi-Carvieris: a sensação pervasiva de irrealidade que nos acomete durante alguns minutos em situações de cansaço extremo, falta de sono, leve embriaguez, desorientação etc., fazendo-nos acreditar que nada daquilo à nossa volta é real, que nada daquilo está acontecendo de verdade. 
 
Dundos: pequenos tambores distribuídos com a platéia nos espetáculos ao ar livre, para que todos possam acompanhar os números executados pelos músicos no palco, em longas sessões de improvisos nas quais a platéia é “regida” pelos músicos. Os dundos ficam colocados embaixo dos assentos, e ninguém é obrigado a usá-los; por outro lado, tentativas de bagunçar a execução coletiva são reprimidas de forma delicada mas firme. 
 
Gellibar: Processo educativo usado nas escolas de crianças pequenas, em que forma-se uma roda e as crianças são estimuladas a lembrar fatos importantes que lhes aconteceram nas últimas semanas, os quais são discutidos coletivamente. Estes encontros periódicos ajudam a ir formando nelas um conjunto de lembranças autobiográficas que ajuda em seu desenvolvimento. 
 
Birij: Nome que se dá a qualquer objeto, ao ser usado para produzir uma dor não muito intensa, quando aplicado ao corpo: uma pinça, uma lâmina pouco afiada, uma extremidade pontuda, etc.  Os aldebaranes as empregam, por um misto de ciência e superstição, com o intuito de desviar a atenção de uma pessoa da dor mais forte que está sentindo. Se alguém está com uma forte dor de dentes, ou em algum órgão, o uso de um “birij” é aplicado no músculo do braço, ou nas costas da mão, ou na batata da perna, na crença otimista de que uma segunda dor ajudará a reduzir a dor principal que a pessoa sente. 
 
Iskrymio: Sistema de aprendizado que vigora nas oficinas, ateliês, etc., em que os candidatos a emprego inscrevem-se numa fila por ordem de habilidade e de conhecimento das várias tarefas a serem executadas. Cada aprendiz torna-se, durante algum tempo por dia, “mestre” do aprendiz que está logo abaixo dele na lista, checando seu conhecimento e ensinando-lhe a habilidade mais urgente no momento, e assim por diante. Desse modo, todos são aprendizes e mestres simultaneamente, e cada novato precisa galgar posições ao longo do “iskrymio”. 
 
Armivéris: miragens atmosféricas muito frequentes nos continentes do hemisfério norte, devido a bruscas mudanças de temperatura e à evaporação das águas; nesses episódios, que chegam a durar mais de meia hora, o horizonte visível parece erguer-se, revelando a parte oculta por trás da sua linha-limite, e dando a impressão de que o chão do planeta ergueu-se e está se dobrando sobre si mesmo, revelando florestas, desfiladeiros, montanhas, etc., que normalmente estão invisíveis ao observador. 
 
Coc-Nambure e Kic-Nambure: O sentido aproximado é de “Coincidências e Descoincidências”, ou “Rimas e Não-Rimas”. Os aldebaranes têm como passatempo colecionar coincidências ou rimas da vida real, por exemplo: ver passar na rua uma mulher de blusa azul e saia amarela, e logo na rua seguinte, em outro contexto, encontrar outra mulher com a mesma combinação de cores. A “não-rima” é quando algo parecido ocorre ao revés: p. ex., quando num dia conhecemos um pai e um filho, e no dia seguinte outro pai e outro filho com os nomes trocados em relação ao primeiro par.