domingo, 24 de maio de 2015

3822) A política e o clima (24.5.2015)



(ilustração: John Schoenherr)


As razões de tantas metáforas climáticas: “o céu amanheceu tempestuoso no Congresso”, “esta semana o governo navegou em águas mais tranquilas”, etc., é que política e fenômenos atmosféricos obedecem a algoritmos de dinâmica semelhante. 

Seria interessante criar alguns critérios para avaliar o fluxo e o refluxo dos fatos políticos, num período qualquer; e depois comparar essa velocidade de respostas das massas à chegada do rádio, depois da televisão doméstica, depois da Internet, depois das redes sociais.

O viajante do tempo, na novela de H. G. Wells, empurrava para a frente a alavanca propulsora de sua Máquina, e em dois segundos víamos uma flor desabrochar e uma fruta apodrecer. 

O movimento das populações humanas, acelerado artificialmente por meios cibereletrônicos (tal como a pulp fiction prevê há quase um século), reage como um polvo que leva um choque de teiser ou como uma rã galvanizada.  Amostragens de reações que antes se colhiam em trinta anos colhem-se hoje em trinta meses. A lentidão dos fatos é ilusória, tudo está se acelerando, o vórtice já foi acessado, não há retorno nem destino.

O objetivo desse estudo, no entanto, não seria o de usar a meteorologia para prever o comportamento de candidatos, partidos, líderes em seus cargos, e o das diferentes massas, cortadas por diferentes filtros, que votam neles. 

(Imagino um enredo: Um grupo terrorista desenvolve um programa de hipno-treinamento capaz de inculcar nos que dele se beneficiam comandos de auto-destruição mediante senhas em voz alta que deflagrarão neurodetonadores em três pontos do cérebro. Os portadores inocentes desse comando serão promovidos, empregados, bajulados, terão sempre grupos que se aproximam sorridentes, apresentam-se a eles e os ajudam a galgar em poucos anos os degraus do poder. Um deles será candidato a presidente de uma nação. E na noite do debate final com audiência de 100% dos aparelhos e zero total na concorrência, o desafiante pronunciará a senha ao fazer-lhe uma pergunta, e a cabeça dele vai explodir em todas as direções.)

Talvez seja mais fácil influenciar uma revolução do que uma maré. 

A política é feita de gente como nós, mas a meteorologia tem seu próprio caos, e nosso poder se limita a interferir nela, em geral como efeito colateral de algo mais importante que estamos empreendendo. Não a conhecemos sequer para prevê-la, quanto mais para controlá-la. Já a política... 

Controlar multidões é mais fácil, todos conhecemos o nosso gado. Modelos literários e filosóficos não faltam. O tempo acelerou, encaixou no fotograma da mente, e agora a mente da gente está vendo tudo.