Revi este filme antigo de Terry Gilliam, que talvez seja o
filme menos “Terry Gilliam” de toda sua obra. O diretor é conhecido pelas suas
superproduções com direção de arte fantástica e barroca, enredos mirabolantes,
verdadeiras “extravaganzas” como Brazil, o Filme ou As aventuras do Barão de
Munchausen. Sua obra tem um pé na ficção científica, outro no gótico, e
elastecendo a metáfora posso dizer que tem outros pés espalhados pelo
steampunk, o surrealismo, o macabro, a magia-de-palco do século 19. Gilliam
surgiu no grupo cômico Monty Python, mas embora seus filmes compartilhem com o
MP um tom burlesco, satírico, exagerado, não são filmes de humor. Seus filmes não
são engraçados. Pelo contrário – são cheios de situações que têm potencial
cômico mas uma poderosa força gravitacional os arrasta o tempo inteiro para o
território da angústia e do pesadelo.
The Fisher King conta a história de dois homens cujas
vidas foram destruídas, e depois ligadas, por uma brincadeira de mau gosto de
um deles. Jack Lucas (Jeff Bridges) faz um locutor de rádio que um dia, para
parecer cínico e “blasé”, sugere a um ouvinte (com quem conversa pelo telefone,
durante a transmissão) que vá a um bar de “yuppies” e fuzile todo mundo. Mal
sabe ele que o sujeito vai fazer isso mesmo. A chacina arruína a carreira
radiofônica de Jack.
Anos depois, ele, numa tremenda pindaíba, acaba conhecendo
um morador de rua, Parry (Robin Williams) e descobre que Parry caiu na miséria
depois que perdeu a esposa, morta justamente na chacina que ele
involuntariamente ordenou. Daí em diante, começa uma história fantasiosa,
tortuosa (o roteiro é cheio de três passos para a frente e dois para trás), às
vezes sentimentalóide, mas geralmente simpática, em que esses dois sujeitos
tentam reequilibrar suas vidas.