A Singularidade, segundo os cientistas e os escritores de FC, será aquele momento em que todos os processos de inteligência artificial que estamos criando irão convergir para a formação de um estado supra-biológico de consciência humana/cibernética. Como um piloto automático que se apossasse do avião e impedisse os pilotos humanos de entrar na cabine.
O que acontecerá então?
Temos a tendência de projetar um perfil antropomórfico, ou
uma essência semelhante à humana, em todo fenômeno que nos transcende, sem
atentar para essa contradição. Se nos transcende, não é como nós. Não parece
conosco. Não pode ser descrito em nossos termos. Deus não é um homem de barbas brancas
sentado num trono.
A Super Inteligência Artificial do futuro não será um cientista (benigno ou psicótico) dando ordens que não conseguiremos desobedecer.
A Super Inteligência Artificial do futuro não será um cientista (benigno ou psicótico) dando ordens que não conseguiremos desobedecer.
É bastante possível que estejamos criando não uma, mas uma
série de Semi-Inteligências Artificiais, e que a Singularidade, o momento
irreversível em que esse processo escapará das nossas mãos, não tenha uma
consciência central. Não será um computador gigantesco dizendo: “Agora, vocês
vão ter que me obedecer”.
Fico até incomodado quando penso nisto, mas acho que a Singularidade não vai parecer nem com uma Divindade nem com um Super-Cérebro, vai parecer com um Doido.
Fico até incomodado quando penso nisto, mas acho que a Singularidade não vai parecer nem com uma Divindade nem com um Super-Cérebro, vai parecer com um Doido.
Milhares, milhões de processos eletrônico-digitais
controlando nossas finanças, nossas identidades sociais (documentos, senhas,
acesso a tudo), nossos bancos, nossos meios de transporte, nossas formas de
comunicação. Quem me garante que a Singularidade não será capaz de produzir
pastiches perfeitos do meu texto e do meu estilo, postar em redes sociais,
mandar emails para minha família dizendo o que bem entender – e fazer-se
acreditar?
A Singularidade será um universo beckettiano ou douglasadamsiano. A vida no planeta correrá o risco de ser destruída justamente pela falta de um ditador antropomórfico em busca do poder. Serão mil ditadores algorítmicos, conflitantes, contraditórios, tentando se sobrepujar por mero determinismo de programação.
E o mundo se transformará num pesadelo surreal-cubista, numa peça de Ionesco montada pelos loucos do Asilo de Charenton, e a vida humana se tornará finalmente um conto contado por um louco, cheio de som e de fúria e significando rigorosamente nada.