O parafuso está um degrau acima do prego, em termos de
evolução. Quem inventou o prego? Os primeiros eram talvez pedaços de graveto
usados para perfurar e unir folhas largas da cobertura de uma cabana,
fixando-as umas às outras. Depois que o metal começou a ser forjado, não custou
muito perceber que ele, se pontiagudo, podia fazer o mesmo com dois pedaços de
madeira. Já o parafuso exigiu uma mente mais sofisticada. A idéia de enfiar um
prego torcendo-o, ao invés de batendo, deve ter ocorrido aos usuários milhares
de anos antes de alguém ser capaz de esmerilhar no metal a rosca que o ajuda a
penetrar e depois o mantém preso.
A palavra inglesa para parafuso, “screw”, é a mesma para o
verbo que indica o ato sexual, nosso famoso verbo com F. Há um simbolismo
fálico evidente, mas seria mais lógico o uso de “nail” (prego), cujo movimento
corresponde de modo mais instintivo ao do ato em si. Prego e parafuso envolvem
conceitos diferentes de movimento: o movimento reto para a frente e o movimento
helicoidal para a frente. Para fazer a forma evoluir de um ao outro é preciso
partir para um conceito totalmente diferente. Era o mesmo impasse dos sujeitos
que tentaram inventar o avião construindo máquinas que batiam as asas, imitando
o voo dos pássaros. Levou algum tempo até todo mundo perceber que o caminho não
era esse.
O movimento helicoidal do parafuso (basicamente os
movimentos simultâneos de giro em torno de si mesmo e de avanço num eixo
retilíneo perpendicular – me corrijam se isto está errado) foi uma conquista
conceitual sofisticada. Seria interessante ver se a fenda na cabeça (onde se
insere a chave de fenda) surgiu logo, ou se os primeiros parafusos tinham uma
haste projetada para cima e eram torcidos com o dedo (como as chaves comuns).