(foto: Graça Graúna)
Já
vi muitos depoimentos de estrangeiros sobre nosso povo, em entrevistas,
pesquisas, enquetes, o escambau. As críticas que nos fazem são sempre muito
parecidas, todas sobre coisas que a gente já sabe, e que em certa medida são
verdadeiras: o brasileiro é acomodado, não se mobiliza socialmente para
protestar, é excessivamente informal e despreza os instrumentos de controle
(leis, Constituição, regulamentos, etc.). Examinar esses defeitos pode até ser
interessante, mas hoje quero examinar algumas qualidades que nos atribuem.
Dizem,
por exemplo, que o brasileiro é acolhedor, hospitaleiro. Será que esses povos
europeus não o são? Talvez o sejam, mas de uma maneira diferente. O europeu em
geral (olha que bruta generalização!) recebe super bem um desconhecido, desde
que ele traga algum tipo de apresentação ou recomendação. Desde que ele tenha
uma noção razoável de quem é aquela pessoa. Em todas as minhas experiências foi
assim. O brasileiro, por outro lado, tende a acolher bem as pessoas com quem
simpatiza, independentemente de saber quem são. Os índios são assim, não é
mesmo? Nove vezes em dez, recebem de
braços abertos até aqueles sujeitos barbudos, feridentos, armados de escopetas.
Outra
coisa: o brasileiro tem fé, acredita que as coisas, por piores que estejam, vão
melhorar. Amigos europeus já me disseram do seu espanto diante disso. Por quê?,
pergunto. Quando vocês têm um problema acham que o mundo vai acabar? Eles
dizem: "Não, quando nós temos um problema temos medo de que aquela situação não
dê certo e tudo comece a piorar a partir dali". Já os brasileiros dizem “deixa
como está pra ver como é que fica” – e vão pensar noutra coisa.