A gente vê no jornal ou na Internet a resenha de um livro
interessante, fica com vontade de dar uma olhada, mas não consegue lembrar o
título nem o nome do autor. Dias depois, no balcão da livraria, reconhece a
capa e, sem refletir muito, leva o livro direto ao caixa. Quando chega em casa,
surpresa: o livro não é o que a gente pensava. “Mas a capa é igualzinha!”,
queixa-se o leitor. Pois é, rapaz. A capa era igualzinha. Isso é mais frequente
do que a gente imagina.
Esta matéria no saite “Livros e Afins” (http://bit.ly/1aP82jQ) faz um apanhado muito
divertido dessa tendência (com notável honestidade, o saite informa ter
transcrito a matéria do saite estrangeiro BuzzFeed (www.buzzfeed.com). Muitas vezes uma série
de livros de um autor de sucesso (Agatha Christie, Sidney Sheldon, etc.) recebe
capas semelhantes, num mesmo estilo. Mas há grupos nítidos de capas quase
idênticas em livros sem a menor relação uns com os outros. Pode-se falar em imitação, em plágio, em
furto de idéias... Pode até ser, porque tudo isso acontece no pega-pra-capar da
indústria editorial. Mas vendo tantos exemplos juntos a gente tem que admitir
que vai mais longe: são “tendências” (como gosta de dizer o pessoal da moda),
são recursos que de repente viram um consenso na cabeça dos designers: “Isso
aqui já funcionou antes, deve funcionar sempre.”
A lista do saite mostra tendências interessantes: para
histórias de mistério e suspense, imagens como “o homem na cerca”, “o
assustador homem-silhueta”, etc. Para histórias dramáticas e românticas, vale
usar vezes sem conta a mesma foto de uma mulher com vestido longo e costas
nuas, ou imagens de mulher olhando o mar. Romances para yuppies apresentam
capas em torno de elementos básicos: sapatos altos, jóias, tonalidades frias.
Vendo esses exemplos percebemos que a escolha da capa
de um livro está sempre num movimento pendular entre “exprimir/comentar o
conteúdo literário da obra” e “convencer o possível comprador de que aquele
livro parece com outros de que ele gostou”. Como tantas vezes ocorre nas
atividades humanas, é mais fácil apostar no que já funcionou antes do que
tentar ver se uma coisa esquisita funciona. A capa do livro pertence àquele
conjunto de elementos que não têm nada a ver com literatura, mas que, se
contiverem demasiado “ruído”, não conseguem convencer as pessoas a quem cabe
vendê-lo: o departamento de marketing da editora, o livreiro, o balconista. Se
esses importantes personagens não se entusiasmarem com o aspecto do livro e com
a sua descrição superficial, vai ser difícil chamar a atenção do leitor. Pode
ser sucesso. Mas vai dar o dobro do trabalho.