Antonio Cândido já esboçou mais de uma vez a diferença entre
o crítico literário acadêmico, que praticamente só lida com os nomes
consagrados, e o crítico de jornal, que recebe os livros recém-lançados pelas
editoras e tem apenas alguns dias para ler o texto e formar opinião a respeito.
Essa crítica diária, enfrentando textos de autores novos e ainda desconhecidos, envolve o risco de quem salta no trapézio sem ter por baixo a rede de proteção.
Essa crítica diária, enfrentando textos de autores novos e ainda desconhecidos, envolve o risco de quem salta no trapézio sem ter por baixo a rede de proteção.
Diz Cândido:
“Não é fácil escrever todas as semanas sobre livros do dia, feitos muitas vezes por autores desconhecidos, a respeito dos quais não se tem a menor referência. Por isso digo que um crítico como Álvaro Lins, que acertava sempre e produzia artigos bem escritos, de grande densidade e destemor, enfrentava dificuldades maiores do que, por exemplo, Augusto Meyer, que escrevia não sobre o livro da semana, de autor frequentemente desconhecido, mas sobre Camões, Cervantes, Machado de Assis, Dostoiévski, Pirandello, Rimbaud.”
Escrever sobre os clássicos é mais cômodo, mesmo quando o crítico traz uma visão nova, emite um juízo arriscado, ou se envolve numa polêmica. O clássico todo mundo já sabe do que se trata. É território ainda não totalmente desbravado, mas território conhecido.
“Não é fácil escrever todas as semanas sobre livros do dia, feitos muitas vezes por autores desconhecidos, a respeito dos quais não se tem a menor referência. Por isso digo que um crítico como Álvaro Lins, que acertava sempre e produzia artigos bem escritos, de grande densidade e destemor, enfrentava dificuldades maiores do que, por exemplo, Augusto Meyer, que escrevia não sobre o livro da semana, de autor frequentemente desconhecido, mas sobre Camões, Cervantes, Machado de Assis, Dostoiévski, Pirandello, Rimbaud.”
Escrever sobre os clássicos é mais cômodo, mesmo quando o crítico traz uma visão nova, emite um juízo arriscado, ou se envolve numa polêmica. O clássico todo mundo já sabe do que se trata. É território ainda não totalmente desbravado, mas território conhecido.
O difícil é receber um livro de alguém sobre quem não se tem muita informação – um autor estreante, por exemplo – e se deparar com um texto inquietante, desconcertante, cheio de coisas novas e inesperadas que tanto podem refletir genialidade quanto maluquice. O risco de emitir uma opinião errada é grande. O crítico não sabe como aquele livro vai ser avaliado pelos seus colegas, ou pelo público. Precisa se manifestar.
Ainda hoje são conhecidos os casos de críticos que num primeiro momento reduziram a pó a obra de Carlos Drummond ou de Guimarães Rosa, e que depois ou se retrataram ou se encarniçaram, por auto-defesa, nessa recusa teimosa.
“O jornalismo crítico é uma grande escola e, de certo modo, um teste importante, requerendo intuição certeira, rapidez de apreensão, capacidade de decidir e clareza de escrita,” diz Antonio Cândido, e continua: “Reconheço em mim um pouco dos requisitos mencionados, que me permitiram, por exemplo, reconhecer imediatamente o valor de três estreantes desconhecidos: João Cabral, Clarice Lispector, Guimarães Rosa. Cometi erros paralelos, dando importância a autores que não a tinham, supervalorizando livros fracos de autores famosos; mas não me lembro de nenhum erro calamitoso, isto é, considerar de primeira plana quem não era ou desqualificar alguém de alto nível. Mas talvez a memória esteja manobrando a meu favor…”