Tem crescido o
número de livros de contos baseados nas lendas populares, no folclore, nas
histórias de assombrações e de monstros das diversas regiões do Brasil. Quando
publiquei no ano passado meu livro de contos Sete Monstros Brasileiros (Casa
da Palavra, 2014) , citei alguns amigos que estão trabalhando esse tipo de
literatura, como Simone Saueressig, Christopher Kastensmidt e Felipe Castilho.
Mitos e lendas populares têm sido sempre adaptados para livros infantis,
tomando inclusive uma feição paradidática, mas o fenômeno mais recente é a
produção de textos nessa linha para leitores adultos, fazendo uma interface com
a literatura de terror tradicional.
Outro lançamento
recente é Maldito Sertão (Natal, Editora Jovens Escribas, 2012, 2ª. Edição)
de Márcio Benjamin. É uma coletânea de doze contos curtos onde surgem os
“habituais suspeitos” das nossas lendas de terror e assombração: o lobisomem, o
papa-figo, a porca dos sete leitões, a Comadre Fulozinha, a mula sem cabeça,
etc. As histórias de Márcio Benjamin
têm narrativa ágil, com parágrafos curtos. Em sua maioria descrevem uma
situação humana (uma casa, uma família, um grupo de pessoas) onde a invasão do sobrenatural
se dá tanto por acaso quanto por uma espécie de maldição tipo “estava escrito”,
algo que provavelmente aquelas pessoas nunca poderiam evitar. Os desfechos são misteriosos e geralmente
violentos.
Um aspecto que
me agradou foi a linguagem nordestina coloquial empregada pelo autor, que
reforça a textura oral desses contos. “Saiu desembestada”, “arrudiando a casa”,
“velho como a fome”, “aperreados com a violência”, “buchos cheios de arribaçãs
fritas”, “uma zuada seca”, “o primeiro bufete que levei, de uma ruma de
outros”, “eu moro aqui faz é tempo”, “arrumadinhas como bonecas de feira” são
algumas expressões que dão ao livro essa oralidade sertaneja, esse resíduo de
um modo de falar e de pensar que serve de caldo fermentador dessas histórias.
Sem forçar a barra da oralidade (o português é simples mas correto, sem
transcrições fonéticas), essa maneira de escrever dá credibilidade literária a
essas pequenas fábulas de crueldade, pecado, mistério, medo, ambição.