Uma coisa que me inquieta nas discussões das redes sociais e nos comentários de websaites é a imensa truculência, grosseria e estupidez com que as pessoas se exprimem quando estão discutindo algo que as incomoda.
A Internet levantou o tapete do Brasil e nos mostrou o que estava
oculto há muitas gerações. A liberdade de “dizer o que bem entender” tem sido
usada por essas pessoas para insultar e agredir verbalmente qualquer bode
expiatório que passar pela sua frente. E não venham me dizer que é a “Direita
hidrófoba” que faz essas coisas. É todo mundo, de um extremo ao outro, e
principalmente nos dois extremos.
Somente
entusiasmos desse tipo, só que de repulsa, justificam expressões como as que a
gente vê nas redes sociais, escritas por gente que sabemos educadas, por gente
que sabemos terem bons sentimentos e bom caráter (coisas que têm apenas um pouco
a ver com opções políticas), mas que parecem estar sempre de palavrão em riste
para desferi-lo na direção de um político, um artista, uma pessoa que saiu no
jornal devido a um acontecimento qualquer.
Vou deixar de lado os que são meio psicopatas, os que
aceleram o carro pra cima de uma passeata, os que se desentendem numa fila e
daí a pouco matam um desconhecido com seis tiros, os que se juntam para linchar
uma pessoa que foi confundida com outra. São pessoas em ebulição permanente, a
ponto de explodir, e para elas tudo é pretexto.
Casos perdidos, e não é neles que
penso. Penso nas pessoas que não são assim (entre as quais amigos, conhecidos
meus) e que “do nada” produzem frases de uma violência e um teor ofensivo
que... não vou dizer que me assustam, porque não me assusto com nada, e em
matéria de violência verbal sou capaz de entestar com qualquer um. Mas não
creio que a “indignação cívica” baste para justificar não apenas as coisas que
são ditas, mas o vocabulário rasteiro, brutal com que são ditas.
Por que o fazem? Chamo isso de carência retórica. Pessoas
que precisam exteriorizar um sentimento muito intenso que brota numa região
primitiva, pré-verbal.
Tive um amigo que era o entusiasmo em pessoa, era um
tipo como Maiakóvski (“sou coração dos pés à cabeça”). Chegava com um livro e
dizia: “Esse livro é a coisa mais absolutamente genial e sensacionalmente
maravilhosa que eu já vi em toda minha vida”. Dizia variantes disso, dez vezes
por dia, com dez coisas diferentes. Eu dizia: “Rapaz, por que tu não inventa um
elogio que prescinda de hipérboles?” (eu falava assim aos 18 anos).
Essa carência retórica mostra, acima
de tudo, que o que o indivíduo diz passou por longe de sua consciência. Brota
direto do lugar onde alguém lhe cravou os implantes mentais.