sexta-feira, 9 de agosto de 2013

3260) Mídia Ninja e Pasquim (9.8.2013)




A entrevista no “Roda Viva” (TV Cultura) com os organizadores da Mídia Ninja (Bruno Torturra) e Fora do Eixo (Pablo Capilé) veio depois da ida àquele programa dos organizadores do Movimento Passe Livre, um dos responsáveis pelas manifestações dos “20 Centavos” em junho. Eram jovens desconhecidos (eu pelo menos não sabia direito quem eram) sabatinados por velhas raposas da imprensa, que lhes pediram contas de seus atos com aquele ar meio paternal e meio sobranceiro com que um bedel entediado interpela estudantes que flagrou reunidos no banheiro, cochichando entre si, em atitude suspeita. “Bora, bora, o que diabo vocês andam aprontando?”.  Este, aliás, seria um bom título para esses programas, em que jovens na faixa dos 30 anos explicam aos profissionais da informação o que está acontecendo no mundo. Como disse Dylan: “Porque alguma coisa está acontecendo aqui, mas você não sabe o que é, não é mesmo, Mr. Jones?”.

Alberto Dines, no último bloco, evocou uma semelhança que a cada minuto me vinha à mente, a semelhança dessa nova TV-de-Rua com a imprensa alternativa dos anos 1960-70. Quando O Pasquim surgiu eu tinha 19 anos e via os jornais comentando com desdém aquele jornaleco que já começava esculhambando a si mesmo a partir do nome. Comentários tipo: “Eles mesmos não sabem se é um jornal de humor, de política, de cultura ou de mulher pelada”. Para a imprensa da época, as gírias, os palavrões (inclusive os censurados, que davam origem a expressões saborosas como “vai pra asterisca que asterisquiu!”), a bagunça gráfica, a salada ideológica, tudo isso era uma afronta à grande imprensa da época, que era tão penteadinha, barbeada e cheirando a loção quanto a de hoje.

Fala-se no mundo da ciência que se um cientista velho diz que alguma coisa é impossível ele provavelmente está errado. No mundo da cultura, quando um crítico velho diz que alguma coisa é ininteligível é porque não sabe mais onde pôs os óculos (que estão na testa). Não conheço as atividades do Fora do Eixo (um coletivo de produção de eventos por todo o Brasil), mas tenho acompanhado transmissões da Mídia Ninja há um mês, madrugada adentro. Um celular na mão, um computador (e sua bateria) na mochila, uma conexão 3G, um saite para distribuir. Para quem só tinha as TVs abertas e a GloboNews, virou uma maneira diferente de ver os fatos públicos. Não sei no que vai dar isso tudo. O que os distingue da imprensa velha (a da minha geração) não é o fato de que saibam, porque eles também não sabem. É o mergulho nas novas tecnologias, que geram novas relações, que geram novas idéias. Se são boas (e para quem são boas), o tempo dirá. Vamos ligar e assistir.