1
Suvrinda Amantchali, 48, agente imobiliária, moradora de
Nova Delhi, estava sozinha em casa à noitinha quando houve um black-out. Resolveu fazer um café, foi à cozinha no
escuro com uma vela acesa em cima de um pires, ligou o gás, constatou que como
se não bastasse a falta de luz o gás também tinha acabado, foi no quartinho dos
fundos, trouxe o bujão de reserva, ligou-o com impaciência, sem perceber que
tinha deixado o bico do fogão aberto, e a vela a meio metro de distância em
cima da pia.
2
Paulo Alcides Monteiro, 27 anos, carioca, vinha andando
pela rua quando percebeu que seu tênis direito estava com o cadarço solto. Deu mais alguns passos e parou junto a um
portão de chapas de metal, um tanto elevado em relação à calçada, e pousou ali
o pé para amarrar o laço. O portão tinha uma brecha de uns quatro dedos em
relação ao chão de cimento, e foi por ali que o doberman trancado abocanhou o
pé dele.
3
Helmut Weissberg, 48 anos, morador de Munique, vinha
voltando para casa de madrugada, numa estrada rural, ao volante de sua picape,
após uma noitada numa cervejaria, quando ao entrar no povoado onde morava
derrapou numa curva, desceu aos trambolhões pelo barranco, destruiu algums
cercas e se chocou com o muro de uma casa, e como estava sem cinto de segurança
foi arremessado no ar através de uma janela aberta onde aterrissou no quarto
onde sua esposa, inadvertidamente, entregava-se a folguedos inconfessáveis com
Mathias Brommberg, 51 anos, carteiro municipal.
4
Ananda Molinaro, 44 anos, manicure, residente em Palermo
(Sicília), estava sozinha em casa à noite quando viu um escorpião sair de entre
as pedras da parede e cruzar a sala. Lembrou-se da lenda a respeito de cercar o
escorpião com um círculo de fogo para que ele se suicidasse, muniu-se de álcool
e fósforos, e acabou ateando fogo ao animal, que disparou pela casa
transferindo as chamas para o tapete, as cortinas, a toalha da mesa, o carrinho
do bebê.
5
Barney Duclane, 48 anos, operário da construção civil em
Baltimore, estava trabalhando no sexto andar de um edifício em construção
quando, ao desferir uma martelada mais forte na tábua que estava pregando, viu
a cabeça do martelo escapar do cabo e descrever um arco veloz cortando o espaço
e terminando do outro lado da rua à altura da calçada, onde se chocou
diretamente com a têmpora direita de James R. Martindale, 34 anos, corretor de
seguros, cujo último pensamento foi a respeito da casa de praia que pretendia
comprar dali a dois anos, quando recebesse uma promoção.
6
Damião Barbosa da Cunha, 31 anos, ambulante na praia de
Ponta Negra (Natal), subiu num coqueiro para tirar um coco e vender a uma turista
mas o coco escapou-lhe das mãos e caiu lá de cima sobre o fogareiro de uma
barraca vizinha, ateando fogo ao plástico que a recobria e causando um
corre-corre que foi causa de uma colisão envolvendo seis veículos, entre eles o
Porsche de um deputado que quebrou o nariz e processou Damião por danos físicos
e psicológicos.
7
Luzia Maria da Silva Oliveira, 23 anos, dona de casa, acordou
sozinha em casa com o bebê chorando, deu-lhe uma aguinha, ligou o fogo e botou
a mamadeira para escaldar, arrastou o tamborete para perto, agradeceu em
silêncio pelo bebê ter se calado, pensou na vida, pensou no futuro, pensou
quando o bebê já fosse grandinho e ela pudesse passear no parque, comprar
sorvete, correr na grama atrás de um cachorro, fazer festinha temática de aniversário,
as brincadeiras, as prendas, e de repente um cheiro acre no nariz e ela
despertou para a realidade do dia claro, o bebê chorando e a fumaça preta se
elevando da panela por entre o odor pungente de plástico derretido.
8
Lourival Carmelo da Silveira, 51 anos, funcionário
público, reuniu em casa, num domingo de sol, uma horda vociferante de
torcedores uniformizados, para acompanhar pela TV um clássico qualquer, entre
caipirinhas e tiragostos variados, e para tirar onda abriu com cuidado a tampa
de uma garrafa de cachaça e depois a colocou de volta, deixando-a na mesa da
sala, até que alguém ergueu a garrafa e pediu o abridor adrede surrupiado, e
Lourival bazofiou, “isso eu abro é com o dente!”, ergueu a garrafa, encaixou
com firmeza o dente na tampa já preparada, e com um gesto firme do pulso
deu-lhe um sacolejo forte que fez voar pelos ares um canino sanguinolento.