Estou coordenando, para o cineclube da Escola de Cinema Darcy Ribeiro (Rio de Janeiro) uma Mostra do Cinema Fantástico, com filmes todos os sábados às 14 horas, entrada franca. A escola fica na esquina da Rua 1º. de Março com Rua da Alfândega, pertinho do CCBB. (Amanhã, após a sessão, haverá debate comigo e com o prof. Sérgio Almeida.)
A Hora do Lobo (“Vargtimmen”, 1968) deve ter sido o
primeiro filme de Bergman que eu assisti. Me marcou mais do que seus numerosos
filmes sobre crises amorosas (Cenas de um Casamento, A Hora do Amor, A
Paixão de Ana, etc.) O diretor sueco
pode ser considerado um diretor de filmes conjugais, mas para mim é um diretor
de filmes fantásticos, ou de clima fantástico, mesmo quando não acontece nada
literalmente impossível. O Rosto (“Ansiktet”, 1958) mostra um grupo de
artistas ambulantes que realizam números mediúnicos e de magia. O Sétimo Selo (1957) é o famoso filme do cavaleiro medieval que joga xadrez com a Morte. Morangos Silvestres (1957) não é propriamente fantástico mas sua maneira de
justapor um personagem no presente vendo uma cena do seu passado criou um
estilo único de quebra temporal.
O fantástico em A Hora do Lobo tem algo de gótico, de
fatalista. Neste filme, um artista (Max von Sydow) atormentado por visões
ameaçadoras resolve se afastar do mundo e vai viver com a mulher (Liv Ullmann)
numa ilha pouco habitada, imaginando com isto se livrar dos fantasmas que o
perseguem. A convivência com as outras pessoas da ilha acaba fazendo
recrudescer suas alucinações, que a esposa, solidariamente, começa a
compartilhar. A aridez da ilha deserta, na fotografia em preto-e-branco de Sven
Nykvist, ganha a aparência daqueles pesadelos superficialmente realistas, onde
apenas os fatos são bizarros, mas as imagens são de uma nitidez dolorosa.