quarta-feira, 19 de setembro de 2012

2980) Nina vs Carminha (19.9.2012)




Não, amigos, eu não acompanho a novela Avenida Brasil. Aliás, faz anos que a única novela que acompanho é o Campeonato Brasileiro, onde também há heróis e vilões, suspenses e reviravoltas, tragédias e farsas, inícios empolgantes, barrigas intermináveis e nem sempre um final feliz. Mesmo assim, sou um admirador do gênero telenovelesco, ao contrário do que geralmente se pensa dos intelectuais. Gosto de futebol, cordel, forró, pulp fiction, de tudo que é popularesco; como não gostarei de telenovela? A diferença, acho, é que eu não gosto de qualquer telenovela, só gosto das que prestam.

Li comentários recentes de outros jornalistas, como Maria do Rosário Caetano, em seu Almanakito eletrônico, que disse dias atrás: “Que mal o ‘esticamento’ de Avenida Brasil está fazendo a esta telenovela, heim???  Sem assunto e sem poder resolver a trama, João E. Carneiro está cometendo terríveis atentados à verossimilhança e enchendo linguiça até mais não poder! Quem ainda aguenta as caretas e esgares da Carminha? E o chove não-molha do casal Caruso-Giardini? E Cadinho e suas três mulheres (aliás, este sempre foi um dos pontos fracos da novela, porque caricato demais!!!)”.

E ela cita Zuenir Ventura, que comentou, aludindo à cena do dinheiro roubado a Nina após sair do banco: “Nina, moça viajada, é, na verdade uma tonta, ou pensa que a gente é. Além de desconhecer a existência de cheque e transferências bancárias, não sabe que os bancos possuem cofres para guardar em segurança as fotos que fez de Max e Carminha se beijando e escondeu na casa dos outros".

Concordo com as críticas, principalmente esta de Zuenir, porque vi a cena do roubo e pensei o mesmo. A novela é um gênero mais visual do que o cinema, porque se dirige a uma platéia mais diluída e desatenta. Numa novela não existe dinheiro eletrônico, virtual.  Dinheiro tem que ser em espécie, algo visível, um pacote embaixo do braço. É o mesmo princípio que faz um personagem ir discutir assuntos pessoais na casa do outro, em vez de telefonar. A novela vive do confronto físico, olho no olho, mesmo quando isso impõe violações tremendas à verossimilhança. Neste aspecto, ela se parece mais com uma anedota do que com um romance. O romance, mesmo buscando efeitos, tem um certo compromisso com o real. Numa anedota, tudo que parece com real só existe em função do efeito, e assim é a telenovela. Não porque o público seja bobo. 50 milhões de espectadores devem ter dito: “Mas essa Nina é burra! Sair do banco assim, com o dinheiro na mão!”. Mas eles sabiam o efeito que isto preparava. Puseram as duas coisas na balança, fruíram o efeito e deram de ombros para a plausibilidade.