Muita
gente não tem a menor idéia de como um filme de longa-metragem é feito. Não sabe, e não se interessa em saber. Deve achar que é como filme de aniversário de
criança: organiza-se a festa, chama-se o rapaz com a câmara, e no outro dia o
filme está pronto pra passar. Não é
assim. É um trabalho insano e cansativo,
que envolve às vezes anos de preparação, meses e meses de execução, e no final
deixa centenas de pessoas esgotadas de tanto esforço. E custa (geralmente) milhões de dólares –
sempre com a expectativa de render bem mais.
Quando
a gente se queixa da violência dos filmes, da TV, dos videogames, está de certa
forma se queixando não apenas da possível má influência mental que eles possam
vir a ter sobre as pessoas, principalmente os mais jovens, mas também do
paradoxo de que tanto dinheiro e tanto esforço se concentrem em produzir coisas
assim, quando seria possível, talvez, ganhar dinheiro com filmes diferentes –
afinal, comédias, filmes românticos, filmes de simples aventuras, tudo isso
também costuma dar bons lucros, quando acerta com o “paladar” da galera.
A
matança que aconteceu nos EUA na pré-estréia do novo “Batman” de Christopher
Nolan não é uma consequência do filme, nem desse tipo de filme. Os dois são sintomas de nossa fascinação
permanente pela violência e pela destruição. Somos seres biológicos, de carne e
osso, vulneráveis à violência, condenados à morte, e por isso pensamos nisso o
tempo todo. Somos o único animal que
sabe que vai morrer e o único que (como diz o ditado) morre mil vezes de
mentira antes de morrer de verdade. Batman, o herói desarmado que evita matar,
é o Ego tentando reprimir os Coringas incontroláveis da crueldade, e sentindo
sempre o horror de se saber semelhante a eles.