Numa entrevista à revista inglesa Mojo (a melhor revista de rock que conheço), Paul McCartney refere um episódio divertido da carreira dos Beatles. Diz ele que, no auge da Beatlemania, Lennon (então casado com Cynthia) tinha comprado uma casa em Weybridge, perto de Londres. Eles estavam trabalhando nas canções do filme Help, e Lennon disse: “Ei, eu estou precisando de uma piscina aqui em casa”. “OK,” respondeu Paul, “então vamos compor uma piscina. Tem alguma idéia?” Lennon (cantarolando): “Eight days a week...” “Grande idéia! Isso vai dar uma piscina!” E logo a música estava composta. Diz McCartney, hoje: “Claro que isso era apenas um tipo de brincadeira que a gente fazia para manter a sanidade mental no meio daquela loucura. Mas não estávamos compondo qualquer porcaria só para construir uma piscina. Nós conseguíamos a piscina compondo músicas que julgávamos ser obras de arte”.
O conceito de “minha arte por uma piscina” dos Beatles coincide com um exemplo conhecido no campo da ficção científica, o de Robert Heinlein, o autor de Um Estranho numa Terra Estranha. O editor John W. Campbell declarou certa vez: “O problema com Bob é que ele não tem necessidade de escrever. Quando eu quero arrancar uma história dele, a primeira coisa que preciso é pensar em algo que ele gostaria de ter e não tem, como uma piscina. Em segundo lugar, tenho que convencê-lo de que ele precisa da piscina. E em terceiro lugar preciso convencê-lo de que ele precisa escrever e publicar uma história para poder pagar pela piscina”.
Tem um sutil detalhe psicológico aí. Existem indivíduos que não têm a ambição do dinheiro propriamente dito, a ambição do enriquecimento. Eles gostam das coisas boas que o dinheiro pode trazer-lhes, mas nem mesmo elas são um estímulo suficiente para que eles queiram enriquecer. É preciso às vezes surgir uma necessidade específica, uma bobagem, talvez, mas de qualquer modo algo que eles efetivamente queiram e precisem, para mobilizá-los, mobilizar sua energia criativa.
Os Beatles e Heinlein são um meio-termo entre os Ambiciosos (os que depois da primeira piscina precisam de uma segunda, uma terceira, etc.) e os Desambiciosos, para quem não vale a pena se esforçar para conseguir seja o que for, porque “podem muito bem passar sem aquilo”. Estes últimos muitas vezes produzem uma obra simplesmente pelo prazer que a criação artística lhes traz, pelos desafios “internos” do seu próprio trabalho (“será que conseguirei escrever este livro, pintar este quadro, fazer este filme do jeitinho que o imaginei?”), mas não se sentem motivados pela perspectiva de ganhos materiais. Pra motivar um ambicioso, basta colocá-lo em movimento, e ele nunca mais vai parar, porque não existe limite para o acúmulo de coisas materiais. Para motivar o outro, é preciso mantê-lo ligado no desafio da criação propriamente dita, os únicos capazes de fazê-lo arregaçar as mangas e pôr mãos à obra.
O conceito de “minha arte por uma piscina” dos Beatles coincide com um exemplo conhecido no campo da ficção científica, o de Robert Heinlein, o autor de Um Estranho numa Terra Estranha. O editor John W. Campbell declarou certa vez: “O problema com Bob é que ele não tem necessidade de escrever. Quando eu quero arrancar uma história dele, a primeira coisa que preciso é pensar em algo que ele gostaria de ter e não tem, como uma piscina. Em segundo lugar, tenho que convencê-lo de que ele precisa da piscina. E em terceiro lugar preciso convencê-lo de que ele precisa escrever e publicar uma história para poder pagar pela piscina”.
Tem um sutil detalhe psicológico aí. Existem indivíduos que não têm a ambição do dinheiro propriamente dito, a ambição do enriquecimento. Eles gostam das coisas boas que o dinheiro pode trazer-lhes, mas nem mesmo elas são um estímulo suficiente para que eles queiram enriquecer. É preciso às vezes surgir uma necessidade específica, uma bobagem, talvez, mas de qualquer modo algo que eles efetivamente queiram e precisem, para mobilizá-los, mobilizar sua energia criativa.
Os Beatles e Heinlein são um meio-termo entre os Ambiciosos (os que depois da primeira piscina precisam de uma segunda, uma terceira, etc.) e os Desambiciosos, para quem não vale a pena se esforçar para conseguir seja o que for, porque “podem muito bem passar sem aquilo”. Estes últimos muitas vezes produzem uma obra simplesmente pelo prazer que a criação artística lhes traz, pelos desafios “internos” do seu próprio trabalho (“será que conseguirei escrever este livro, pintar este quadro, fazer este filme do jeitinho que o imaginei?”), mas não se sentem motivados pela perspectiva de ganhos materiais. Pra motivar um ambicioso, basta colocá-lo em movimento, e ele nunca mais vai parar, porque não existe limite para o acúmulo de coisas materiais. Para motivar o outro, é preciso mantê-lo ligado no desafio da criação propriamente dita, os únicos capazes de fazê-lo arregaçar as mangas e pôr mãos à obra.