A porta se abriu. Um homem velho, num uniforme rasgado e sujo, gritou algo mandando-o sair. Ele cambaleou para fora. Era um galpão de tijolo, muito alto, larguíssimo, e ao longo da interminável parede enfileiravam-se cabines idênticas à que ele acabava de deixar.
Parou olhando. Teve tempo de perceber que de vez em quando
uma das cabines se abria e um guarda apressava para fora uma pessoa tão desnorteada e cambaleante quanto ele.
Outros homens, com uniformes diferentes, agora conduziam todos, aos empurrões, para uns veículos longos de metal, acorrentados em fila, grandes quase como galpões também, mas sobre rodas. Seguiram-se horas de sol, poeira, vento áspero, mas tudo aquilo ele absorvia em êxtase, numa excitação que o distraía dos solavancos, dos esbarrões daquela multidão apinhada.
Um céu azul como lhe tinham prometido. Um sol amarelo e bravio como nunca imaginara existir.
Outros homens, com uniformes diferentes, agora conduziam todos, aos empurrões, para uns veículos longos de metal, acorrentados em fila, grandes quase como galpões também, mas sobre rodas. Seguiram-se horas de sol, poeira, vento áspero, mas tudo aquilo ele absorvia em êxtase, numa excitação que o distraía dos solavancos, dos esbarrões daquela multidão apinhada.
Um céu azul como lhe tinham prometido. Um sol amarelo e bravio como nunca imaginara existir.
Não falava as línguas dali, mas era forte e diligente, logo
arranjou onde trabalhar, o que comer, como dormir. Achou um jeito de se
comunicar. Quando perguntavam de onde vinha, mostrava os documentos da viagem e
explicava que não lia ideogramas.
Cruzava na rua com outros e não havia como não se distinguirem dos habitantes locais. Somente eles, os infiltrados, tinham aquela cara de fuinha, aquele olhar assustado, aquela agitação incessante de quem não pode pensar demais no que está fazendo, e ao mesmo tempo aquela maneira de ficar acariciando paredes, tocando em folhas de mato, acocorando-se diante das telinhas coloridas e ruidosas, com pena de dormir e parar de ver aquilo tudo.
Cruzava na rua com outros e não havia como não se distinguirem dos habitantes locais. Somente eles, os infiltrados, tinham aquela cara de fuinha, aquele olhar assustado, aquela agitação incessante de quem não pode pensar demais no que está fazendo, e ao mesmo tempo aquela maneira de ficar acariciando paredes, tocando em folhas de mato, acocorando-se diante das telinhas coloridas e ruidosas, com pena de dormir e parar de ver aquilo tudo.
Claro que estava valendo a pena. Depois que os Tubos foram construídos e começou o êxodo, diziam os temerosos que se morria, que não se ia a lugar nenhum, que a propaganda de “Volte 100 Anos no Passado e Refaça Seu Futuro!” era para exterminar bilhões que disputavam a pouca água e a pouca comida em jogo. “Século 21... A Melhor Fronteira!”.
Ele acendia no escuro a maquininha luminosa, olhava a própria foto, pensava, “sim, eu consegui, não estou morto, estou num mundo onde problemas pode ser resolvidos, onde tudo pelo menos é possível!”. E se deixava embalar pelo aguaceiro.