sexta-feira, 29 de novembro de 2013

3356) Gambiarra (29.11.2013)



Gambiarra é gato, é ligação clandestina, é fiação descoberta, é improvisação informal ligeiramente abaixo do piso de legalidade imposta aos autônomos em geral. 

Gambiarra é arranjo, é ajuste, é quebra-galho, é um pra-ver-se-cola alicerçado pelo norrau de quem faz isso o tempo inteiro.

Na minha infância, “gambiarra” eram aquelas cordas esticadas no ar, com lâmpadas penduradas, numa praça onde ia haver um comício, numa festa ao ar livre, etc. Este me parece ser o sentido português do termo, porque a Wikipédia registra: “Em Portugal, o significado predominante seria ‘extensão de luz’. Entre outros significados, destacam-se ‘ramificação de luzes’ (Ferreira, 1999)”. 

Uma definição em inglês que vi recentemente circulando nas redes sociais diz (tradução minha): 

“Gambiarra é uma definição brasileira para o desvio informal de conhecimento técnico. É uma prática cultural generalizada, que consiste em todo e qualquer tipo de soluções improvisadas para problemas do dia-a-dia, com qualquer material que se tenha à mão”. 

Entre os sinônimos em inglês sugeridos, está o divertido “McGyverism”, que faz referência ao McGyver da série de TV, o agente secreto capaz de inventar soluções improvisadas para tudo. (Eis um saite de gambiarras de cinema/TV: http://shittyrigs.com/).

Gambiarra é quando alguém resolve um problema mecânico, hidráulico, elétrico, etc. usando recursos improvisados. Claro que tanto pode produzir coisas bem feitas quanto mal feitas. A boa gambiarra indica conhecimento do problema e habilidade para resolvê-lo, mesmo que os materiais sejam de má qualidade e que haja maneiras mais eficazes de solucioná-lo. 

A gambiarra mal feita pode produzir curto-circuitos elétricos, estouros / vazamentos / infiltrações hidráulicas, construções de alvenaria tortas e instáveis e assim por diante. A gambiarra não é garantia de trabalho eficiente nem é indício de incompetência.

Já vi amigos da área de Engenharia se queixando de que seus cursos não estimulavam a invenção, e sim a assimilação metódica do que já foi inventado É compreensível: em Elétrica, em Mecânica e em Civil a quantidade de soluções já encontradas é enorme, são séculos de conhecimento acumulado. Diante de tal problema, faz-se assim ou assado. 

O lado negativo, parece, é que quando um problema prático extrapola a tradição alguns engenheiros ficam de mãos atadas, porque não foram ensinados a pensar “fora da caixa”. Vai daí que todo curso prático (Engenharia, Medicina, Arquitetura, etc.) deveria uma cadeira chamada “Gambiarra” que percorresse o currículo do primeiro ao último ano. A arte do improviso, para fazer frente ao Acaso, ao Imprevisível, ao Imponderável.