quinta-feira, 5 de abril de 2012

2836) Intuição (5.4.2012)




(Brian Eno)

A intuição é um recado instantâneo do inconsciente para o consciente, dizendo: “Esqueça como estava fazendo, faça assim”. 

Descrever o processo desta maneira mostra as terríveis limitações da nossa linguagem. A primeira delas, e uma das mais graves, é tratar dois conjuntos de processos como se fossem pessoas: o Sr. Inconsciente Ferreira da Silva é um senhor idoso, de óculos, cara de intelectual, enquanto que o Sr. Consciente Araújo dos Santos é um rapaz de 30 anos, ansioso, magro, jeito de workaholic. Quanto o mais jovem está estressado demais, o mais velho vem em seu socorro... Não, não é bem assim que as coisas acontecem.

Talvez cada um deles se assemelhe não a uma pessoa, mas a um escritório cheio de gente atarefada, trabalhando em grupos de dez pessoas, que se desmancham e se reagrupam em blocos de cinco ou de vinte, os quais logo se desfazem e voltam a se organizar em outras formações, tudo isto visto através daquelas câmaras aceleradas que reproduzem em alguns segundos algo que levou horas para acontecer. 

Talvez seja assim a mente humana. E de repente no andar térreo, o que recebe as visitas (o Consciente) chega correndo, esbaforido, um sujeito do sótão ou do porão (o Inconsciente), com um recado urgente: “É para cortar a comparação com pessoas e usar escritórios!”. Alguém do escritório do térreo pode até perguntar: “Como assim, escritórios?! Por que?”. Mas o mensageiro também não sabe; fica sendo escritórios mesmo, e acabou-se.

O compositor e produtor musical Brian Eno afirmou (http://bit.ly/wo8kaR) que a intuição e a lógica não são necessariamente conflitantes. A intuição é uma avaliação de nossas experiências passadas e de outras referências, mas feita de modo tão rápido que não percebemos, porque o foco de nossa atenção está voltado para outro ponto qualquer. De repente, o resultado surge pronto. 

O que ocorre (agora sou eu que estou falando) é que muitas vezes a lógica está tocando a campainha há duas horas, sem que ninguém atenda, e a intuição cochicha: “Empurra a porta pra ver se não está aberta”. Às vezes está; às vezes não. Nossa mente é como um rio largo que vai fluindo numa única direção quando o terreno é desimpedido, mas quando encontra um terreno montanhoso ele se subdivide em vários braços, cada um procurando caminho por uma trajetória diferente.

Diz Eno: 

“A intuição não é uma voz quase mística que vem de fora e fala através de nós, mas uma espécie de processamento rápido e imperfeito de nossas experiências prévias. Esse instrumento produz às vezes resultados impressionantes a grande velocidade, mas é bom lembrar que de vez em quando pode estar totalmente equivocado”.