O novo filme de James Bond, dirigido por Sam Mendes, lembra
aqueles sanduíches do Subway, que a gente ajuda a preparar. Há milhões de combinações possíveis, mas todo
sanduíche que eu como é parecido com os anteriores, não importa o quanto eu
faça variar os ingredientes. Franquias pop são feitas para funcionar desse
jeito, e se algum espectador criticar James Bond por ser assim é o mesmo que
criticar um baile de carnaval porque tem muita gente pulando.
Daniel Craig trouxe ao personagem de 007 um realismo rude
que estava ausente de espiões charmosos como Sean Connery e Pierce Brosnan.
Craig tem físico de estivador, cara de caminhoneiro e fôlego de volante do
Chelsea. É um ator com quem (penso eu)
muitos ingleses de origem popular se identificam mais do que com os playboys
dos filmes anteriores. Com ele Bond fica
mais realista e menos HQ, e neste filme temos (acho que pela primeira vez na
série) revelações sobre sua infância, seus pais, a casa em que foi criado (e
onde acontece o clímax devastador do filme).
Como em outros filmes recentes sobre heróis pop (Batman, X-Men, etc.) o
mito está se perpetuando através de camadas de realismo psicológico e
verossimilhança social.
O roteiro tem as previsíveis perseguições, infiltrações,
etc. Javier Bardem faz um excelente
vilão: blasé, traumatizado, melífluo, insensível, meio infantil... Cada cena
sua, cada plano, traz uma expressão facial ou uma inflexão de voz que soma
outra característica ao personagem. O
bom vilão é aquele de quem podemos esperar qualquer coisa. Há duas Bond-girls apenas (a morena Naomie
Harris, a asiática Bérénice Lim Marlohe) previsivelmente lindas e perigosas.
(Não sei se é minha memória que está alterando as coisas, mas este é um dos
filmes mais castos de 007, com uma única, breve e elíptica cena de sexo.) Uma
novidade interessante é que Q, o tecno-gênio responsável pelos gadgets de Bond,
agora é Ben Wishaw, um geniozinho informático.