Somente os vencedores têm a sua história contada. Não existe tempo nem espaço na memória dos homens para a história dos que perderam, dos que ficaram pelo meio do caminho, dos que tentaram e não conseguiram. São a cara da humanidade; mas a própria humanidade os despreza. São a parte submersa do iceberg da história, do qual forçamo-nos a ver somente o que se eleva e se destaca, e fingimos que por baixo nada mais existe. Cadê a biografia dos que nunca subiram ao pódio, dos que perderam todas as eleições, dos que foram passados-no-rodo nas batalhas, dos que ficaram em décimo-primeiro lugar nas listas dos dez melhores, dos que buscados no Google dão zero hits?
Toda
história de sucesso é praticamente a mesma coisa, mas cada derrota e cada
tragédia é mais individualizada, mais pessoal e mais de-carne-e-osso do que o
mero triunfo. Perguntem a Dante
Alighieri, que já respondeu. É uma verdadeira assimetria filosófica que um
escritor que publicou dez livros receba uma biografia e um pretendente a
escritor que pensou em escrever dez livros e não o fez não receba sequer dez
linhas de wiki. Sem falar naqueles que
escreveram livros trabalhosíssimos e deixaram a única cópia datilografada no
banco traseiro de um táxi ou numa maleta esquecida na plataforma de um
trem.
O
sucesso tem uma função meramente ampliadora, mas as histórias que conta não têm
um grama sequer a mais do que as catástrofes de subúrbio, os naufrágios de
piscina de quintal, os apocalipses em
plena adolescência, os hindemburgs que colecionamos na interminável infância. Mandem parar a van em qualquer estrada
lateral de qualquer interiorzão brabo, e detenham o primeiro transeunte que for
passando, como faziam aqueles califas e vizires das mil e uma noites. Ele lhes contará uma história pessoal que
bem escrita deixaria um bilhão de mentes estremecendo mundo afora.