(rua em Paraty, RJ)
Nomes
de ruas já foram flashes de poesia ou de humor, ou serviram como uma
polaróide-de-época, ou indicaram pequenos mistérios que um estrangeiro custa a decifrar.
Vi um dia desses uma foto de uma placa
inglesa, com o comentário embaixo: “A placa mais triste de todos os
tempos”. A placa dizia: “Carters Lane,
antiga Wibbly-Wobbly Lane”.
“Wibbly-Wobbly” é um termo wibbly-wobbly de traduzir. Significa algo tortuoso,
acidentado. Em termos nordestinos, a placa citada seria como trocar “Rua do
Catabí” por “Rua Bonifácio Magalhães”. Tem coisa mais sem graça?
Portanto, vou logo avisando: quando eu
morrer não quero meu nome em rua. Se
quiserem me homenagear, criem uma biblioteca onde não existia nenhuma, e botem
meu nome. Ou qualquer outro.
Alceu
Valença tem uma canção (“Pelas ruas que andei”) homenageando os nomes das ruas
de Recife e Olinda, talvez as cidades com nomes mais poéticos. Nunca esquecerei que minha avó Clotilde, já
velhinha, morava na Rua das Moças.
Quando eu era menino, passei muitas férias na casa dela na Rua Subida do
S, no Fundão, nome que eu achava tão descritivo (a rua era exatamente isso, uma
ladeira em forma de S, lembrando a sextilha famosa de Pinto do Monteiro) que o
utilizei anos depois no meu romance A Máquina Voadora.
O
Rio ainda tem a Rua das Marrecas, a Rua do Teatro, a Rua do Jogo de Bola, a Rua
da Quitanda, a Rua da Alfândega, a Rua do Paraíso e outras que talvez não
demorem a ser rebatizadas com o nome de algum picareta municipal,
cavalheiro-de-indústria estadual ou bilionário-provisório federal.
Quando morei
em Salvador, procurei casa no bairro do Garcia, e descobri a Rua dos Artistas.
Saí batendo de porta em porta perguntando se não havia alguma casa para alugar
ali. Não havia, e o mais que consegui
foi acabar morando na Rua Vítor Meireles.
(O fato de depois ter morado, no Rio, na Rua Pedro Américo me pareceu uma
rima com essa moradia baiana.)
A rua em
que nasci, em Campina Grande, era chamada de Rua dos Paus Grandes (“honni soit
qui mal y pense”), devido a umas árvores enormes que a enfeitavam nos idos de
1950. É aquela rua que desce do final
do Beco dos Bêbos (cujo nome oficial ninguém sabe) e vai até o Ponto Cem Réis.
E é tão bonito alguém poder dizer que mora Rua da Floresta, Rua da
Passagem, Rua da Aurora, Rua das Palmeiras, Rua das Ninfas, Rua da Boa Hora.