terça-feira, 24 de abril de 2012

2852) Jão Balaêro (24.4.2012)


 

Cap. 1 – De como Jão Balaêro não nasceu: surgiu no mundo já pronto, aos dez anos, calçando havaianas diferentes, o cós da bermuda na virilha, a camiseta suja com um nome em inglês, um picolé na mão e o balaio na cabeça, e berrando: “Rampali, tantão!”, frase cujo significado ninguém sabia. 

Cap.2 – De como Jão Balaêro cresceu na feira de Campina, chutando laranja chupada, e foi descoberto por um olheiro que o convidou para treinar nas divisões de base do Corinthians. 

Cap. 3 – De como Jão Balaêro viu-se dias depois numa fazenda no sul da Bahia, trabalhando acorrentado, comendo angu com bolacha seca e dormindo numa antiga cocheira de vacas. 

Cap. 4 – De como Jão Balaêro conheceu, entre os trabalhadores, Natan, um sujeito magro, alfabetizado e veemente que lhe ensinou em poucas semanas o que eram os livros, a mais-valia e o coquetel molotov.  

Cap. 5 – De como Jão Balaêro e Natan, aos gritos de “Rampali, tantão!”, mobilizaram 120 trabalhadores exigindo colchonetes, sabão e sopa de legumes, o que resultou em serem todos chicoteados pelos capangas e pendurados de cabeça pra baixo nas árvores uma noite inteira, para exemplo dos demais.  

Cap. 6 – De como, dias depois, caminhões na rodovia próxima recolheram um número incalculável de caroneiros, enquanto no horizonte se elevava um fumaceiro parecido com o da queima de um depósito de algodão, uma casa grande, 35 capangas e um fazendeiro gordo. 

Cap. 7 – De como Jão Balaêro e Natan desembarcaram de um pau-de-arara no Rio e arrumaram emprego numa funilaria. 

Cap. 8 – De como Natan ensinou a Jão Balaêro o que era uma armadura medieval, um robô e um assalto a banco. 

Cap. 9 – De como a polícia frustrou o assalto de dois homens sem documentos vestindo contrafações feitas de folhas de alumínio. 

Cap. 10 – De como a perplexidade da polícia carioca a fez transferir os dois indigitados para o presídio de Ilha Grande. 

Cap. 11 – De como em poucos meses Natan e Jão Balaêro transformaram o presídio, aos gritos de “Rampali, tantão!”, num serpentário trotskysta, onde até os agentes presidiários discutiam acaloradamente sutilezas estratégicas do tratado de Brest-Litovsk. 

Cap. 12 – De como o Alto Comando das Forças Armadas decidiu acabar com a festa, transferindo Jão Balaêro e Natan para um lugar seguro, mas contou com encarniçada resistência dos presos, que resultou em 87 baixas das forças da legalidade e 238 dos amotinados.  

Cap. 13 – De como finalmente Natan foi explodido com uma granada e Jão Balaêro abduzido num helicóptero da Marinha, onde foi amarrado num saco e jogado no Oceano Atlântico, onde submergiu gritando algo que soou como “Glugluglub, glub-glub!”.