Houve um jantar na embaixada da Ruritânia, tendo como convidados de honra o Príncipe e a Princesa da Maldívia. Naquela tarde, o Embaixador da Ruritânia tinha passado a tarde lendo um livro de auto-ajuda intitulado Ser Honesto... Ser Sincero... Ser Feliz!.
Os casais se cumprimentaram diante dos flashes dos fotógrafos, e sentaram-se para o jantar. O Príncipe disse que era uma honra ser recebido pelos representantes de uma nação irmã. O Embaixador respondeu: “Fico muito grato, mas gostaria de dizer que o senhor tem mau hálito, e sua esposa é uma perua horrorosa”.
A julgar pela crise diplomática e pela guerra subsequente entre as nações irmãs, a auto-ajuda não serve muito para situações específicas.
O fato é que a diplomacia é uma forma institucionalizada de hipocrisia, mas é uma hipocrisia do bem. Nem sempre dá para você ser sincero e honesto em tudo que diz. Não estou aqui desculpando os mentirosos de mau caráter nem os corruptos profissionais. Mas a vida real exige um jogo de cintura que não cabe em nenhuma prescrição rígida do tipo “Não mentirás”.
O fato é que a diplomacia é uma forma institucionalizada de hipocrisia, mas é uma hipocrisia do bem. Nem sempre dá para você ser sincero e honesto em tudo que diz. Não estou aqui desculpando os mentirosos de mau caráter nem os corruptos profissionais. Mas a vida real exige um jogo de cintura que não cabe em nenhuma prescrição rígida do tipo “Não mentirás”.
Já li dezenas de entrevistas com diplomatas brasileiros ou estrangeiros relatando episódios delicados que viveram, desde declarações de guerra até bufê estragado. Um diplomata é (ou devia ser) um sujeito capaz de manter a tranquilidade, a rapidez de raciocínio, a cortesia e o bom humor nas situações mais espinhosas. Isto requer, muitas vezes, que para não agravar uma situação já de si tensa ou hostil, ele precise recorrer à mentira.
Ou melhor, recorrer a certos modelos diluídos de mentira: o circunlóquio, o eufemismo, a elipse, a tautologia... Ou outros de origem mais popular: os panos quentes, o cerca-lourenço, a cara-de-pau, o agá, o migué, o drible de corpo...
Isso vale para a diplomacia internacional e para a do cotidiano. Você vai jantar pela primeira vez na casa de um colega de trabalho. A sopa está muito salgada? Você diz que está ótima, mas toma menos do que tomaria se estivesse ótima. Se for na casa de amigos mais próximos você se sente mais à vontade para dizer: “Eita, Fulana, carregasse a mão no sal! Inda bem que eu tenho pressão baixa!”, ou algo assim.
Isso vale para a diplomacia internacional e para a do cotidiano. Você vai jantar pela primeira vez na casa de um colega de trabalho. A sopa está muito salgada? Você diz que está ótima, mas toma menos do que tomaria se estivesse ótima. Se for na casa de amigos mais próximos você se sente mais à vontade para dizer: “Eita, Fulana, carregasse a mão no sal! Inda bem que eu tenho pressão baixa!”, ou algo assim.
Na dúvida, é sempre prudente não ferir os sentimentos alheios com uma verdade fora de hora.
A verdade fora de hora, e desnecessária, pode ser mais prejudicial do que uma mentira. Um dos gêneros literários onde isso é bem explorados é o romance policial, em que muitas vezes acontecem crimes ou tragédias devido ao comportamento de uma pessoa que insistiu em falar a verdade quando nada lhe custava dizer uma mentira inofensiva, e o fez por razões politicamente corretas, por personalismo, por mera estupidez.
A verdade fora de hora, e desnecessária, pode ser mais prejudicial do que uma mentira. Um dos gêneros literários onde isso é bem explorados é o romance policial, em que muitas vezes acontecem crimes ou tragédias devido ao comportamento de uma pessoa que insistiu em falar a verdade quando nada lhe custava dizer uma mentira inofensiva, e o fez por razões politicamente corretas, por personalismo, por mera estupidez.
A mentira é condenável quando é dita para beneficiar quem a diz e prejudicar quem a ouve. Muitas vezes, entretanto, ela não traz nenhuma vantagem indevida para o mentiroso, e poupa de tal forma o ouvinte que nesses casos é perdoável mentir.