Quando
eu era jovem ficava perplexo vendo os mais velhos se queixarem da violência do
mundo. Violência? Que violência? À minha volta eu via som e fúria, mas nunca
pensei que no mundo existisse outra coisa. Hoje – válvulas piscando, bielas
batendo, lataria sacolejando – qualquer som me incomoda e qualquer fúria me
enfurece. Talvez porque os jovens sejam feitos de energia zunindo nos neurônios
e fervendo nas artérias. Pra quem é jovem, furacão é brisa. Quando a idade vai
impondo seu ritmo de jogo, o ex-jovem claudica, bambeia, percebe que o campo no
2º. tempo tem o dobro do tamanho que tinha no primeiro.
Isto,
contudo, são os balõezinhos verbais que se formam na minha cabeça quando estou
com a mente de pijama. Vestido para a luta literária (tênis, jeans e camiseta)
tenho os mesmos 20 anos de qualquer roqueiro, e vejo que o barulho dos jovens
não é por excesso de volume de sua parte. O problema é A Surdez do Mundo. É o
mundo que ao ficar mais velho vai ficando mais surdo, se não dos tímpanos então
do juízo (ou do interesse). O mundo não escuta e quando escuta não ouve, quando
ouve não entende, quando entende não reage, quando reage é mandando todo mundo
calar a boca senão leva porrada. Sendo assim, decibéis nele.
Isso
talvez explique coisas como – pra dar só um exemplo, bem atual – o
quebra-quebra dos “arésios” conhecidos como Black Blocs. Me perguntam se eu sou
a favor da existência deles (é como me perguntar se sou a favor da existência
das onças). Por mim, o mundo não teria violência. O mundo seria um lugar sem
exploração econômica, sem injustiça social, sem miséria, sem corrupção e
ladroagem, sem analfabetismo e desemprego. (Olhem como sou realista – não
questiono o câncer, os tsunamis, as serpentes venenosas; só questiono os males
que são consequência de decisões humanas.) Por mim o mundo seria uma espécie de
Festival de Woodstock, e na hora de trabalhar ele se pareceria com aquelas
propagandas socialistas cheias de operários felizes e camponesas sorridentes e
saudáveis.