domingo, 22 de maio de 2011
2563) Os Gafanhotos do Forró (22.5.2011)
(The Locusts, de Mary Boxley Bullington)
Eles não gostam de forró, não gostam de música. A única música que lhes faz bem aos ouvidos é o tilintar de uma caixa registradora. Entraram no ramo musical em busca de uma massa consumidora fácil de mobilizar, com intensa divulgação boca-a-boca (gratuita, portanto), e a simpatia imediata de todos os que sobrevivem da própria capacidade de mobilizar multidões: políticos, agências de publicidade, etc. Música feita para 500 pessoas não lhes interessa. É um investimento desproporcional de tempo, para faturar pouco dinheiro. Só lhes interessa lidar com públicos de 5 mil para cima.
Os Gafanhotos do Forró querem colocar no palco algo que tenha resposta imediata. O povo gosta de ver mulher pelada? Vamos colocar mulheres nos mais diferentes graus de peladice, uma vez que nuas mesmo não pode ser. Saia curta, malha cor da pele, calcinha de fora, calcinha jogada para a platéia. O povo gosta de pornografia? Vamos fazer letras chamando palavrões, falando de sexo o tempo inteiro. O povo gosta de ridicularizar o vizinho? Beleza, vamos fazer músicas ofendendo todo tipo de pessoa, assim qualquer ouvinte escolhe a música que dá certo com a pessoa que ele quer ridicularizar (e o outro faz o mesmo com ele, claro).
O povo gosta de dançar. Mas como dançar forró não é para qualquer um, usa-se aquele ritmo que é uma diluição de elementos do próprio forró, da lambada, do carimbó, da salsa. Adaptam-se, da gafieira e de outras danças de salão, passos simples que qualquer dançarina principiante consegue reproduzir no palco com alguns dias de treino, dando às moças da multidão lá embaixo a sensação de que elas também conseguem reproduzir. Na verdade, nem precisa que as mulheres da platéia dancem tão bem quanto as do palco: basta que estejam de saia bem curtinha e calcinha de fora. O que é mais fácil de conseguir do que saber dançar.
Os Gafanhotos do Forró abordam candidatos a prefeito em 5 mil cidades do interior. Comprometem-se a fazer “x” shows de graça na campanha do candidato, com a condição de que, se eleito, ele contratará “x” shows dos Gafanhotos do Forró durante todos os anos de sua gestão. Além do mais, o pagamento do cachê dos Gafanhotos é sempre em dinheiro vivo, de modo que parte dele pode ficar na mão de quem faz o pagamento, e uma mão lava a outra.
Os Gafanhotos do Forró combatem, a ferro e fogo, o forró que tocava nas festas juninas de alguns anos atrás, o forró de Luiz Gonzaga, Marinês, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino, etc. Não porque tenham medo de sua concorrência. Combatem o forró porque todo impostor que rouba os documentos, a aparência e a identidade de uma pessoa real só descansará quando essa pessoa estiver morta, e não possa ser vista em lugar nenhum. Enquanto o forró existir, estiver vivo e for tocado, os Gafanhotos do Forró não poderão dormir tranquilos uma só noite, não poderão gastar tranquilos um só centavo dos seus milhões.
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